segunda-feira, 15 de junho de 2015

QUASE HISTÓRIAS (XLI)




ZITO

Está aí homem que nunca teve boca de reclamar. Sempre soube que a vida bem vivida era para poucos, ele estava entre os muitos. Aposentou-se. Um mês depois, a mulher morreu. Aquele passeio a Poços de Caldas, sempre adiado, ficou para nunca mais. Paciência.

Todo santo dia, acordava de madrugada. Fazia necessidades, barba, coava o café. Punha a roupa de trabalho, checava a maleta. Tudo certinho. Caminho da roça: ponto do ônibus. Ficava ali por duas horas. Olhando a vida de quem vivia. De quem tinha trabalho. De quem levava filhos para creche...

Depois, voltava pra casa, tirava a roupa, dormia o sono não dormido.

Seis da tarde. Ele estava lá, no ponto do ônibus, vestido com a roupa da manhã. À espera de quem vivia. À espera de quem trazia os filhos da creche.

Um dia Zito embarcou no ônibus.


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