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Ananias
conversava com um conhecido, quando o Velho Marinheiro entrou no bar do
Carneiro. Cumprimentou o estranho com seu jeito inconfundível, mais pra seco
que pra formal. Sentou-se à mesa, pediu o de sempre e, sem dizer palavra,
passou a ouvir – com certo espanto – a falação do homem, um sujeito de cinqüenta
e poucos anos.
--
Tenho minhas razões, caro Ananias, para evitar médicos. Todos eles, sem nenhuma
exceção, são incapazes de fazer um diagnóstico sem lhe pedir exame de sangue.
--
Qual é o problema? – quis saber Ananias.
--
O problema é que passo mal. Da última vez, coisa de quinze dias atrás, tive que
ser carregado até o carro pela minha mulher e minha filha grávida. Dei um
trabalho danado. Depois do exame, passo uns três dias de cama. Não posso ver
sangue.
O
Velho Marinheiro entrou na conversa:
--
Conheci um sujeito assim. Até hoje não se sabe se ele tinha distúrbio mental. Ou
se era medroso mesmo, um cagão. O senhor é religioso?
--
Claro – lhe responde o visitante. Católico fervoroso.
--
Pois então, o senhor deveria se ajoelhar três vezes ao dia e agradecer a Deus
por ter nascido homem.
--
Não entendi.
A
essa altura, o suor já brotava na testa de Ananias. O Velho Marinheiro tratou
de explicar o porquê de sua observação:
--
Se o senhor tivesse nascido mulher, não estaria hoje aqui.
--
Por quê?
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Com tanta coragem, não teria sobrevivido à menarca.
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