quarta-feira, 25 de novembro de 2015

COISAS DA VIDA

O RONCO


(Por Violante Pimentel) O ronco é responsável por muitas discórdias entre casais. Nada mais incômodo do que uma pessoa roncando de madrugada, perturbando e apavorando quem dorme. Na mesma cama, então, o resultado pode ser trágico.

Quando ouço alguém roncar, penso que aquela pessoa está morrendo e fico apavorada. Não consigo dormir, e fico aguardando algum problema de saúde sério para quem está roncando. Tenho trauma de infância...

Era véspera de Ano Novo e todas as pessoas da nossa casa tinham ido aguardar a passagem do ano na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, assistindo à Missa. Como eu era a caçula e só tinha cinco anos, minha mãe me deixou dormindo na casa dos meus avós, que era vizinha à nossa casa.

Dormia profundamente, quando fui acordada pelo ronco de um barrão que meu avô criava. O barrão era enorme, e eu sentia medo dele. O barulho era tão grande que eu me assombrei. Acreditava que, a qualquer momento, o animal entraria no quarto para me morder dentro da rede. De repente, ele fez uma pausa e parou de roncar por alguns segundos. Acreditei que tivesse abandonado a casa e voltado para o quintal. Ledo engano. O barrão voltou a roncar ainda mais forte.

Entrei em pânico e fiz um verdadeiro escândalo. Na minha cabeça, o barrão estava prestes a me atacar. Do quarto onde estava, gritei pela minha avó, Júlia, pedindo socorro:

- VÓ, OU VÓ, AQUI TEM PORCO!!! O BARRÃO TÁ DENTRO DE CASA!!!

Violante Pimentel é procuradora 
aposentada do Rio Grande do Norte


A avó correu pra me acudir, mas, ao sair do quarto, percebeu que o ronco não era do barrão. O ronco era do meu avô, que, fugindo do calor insuportável do quarto, havia armado sua rede na sala, onde dormia profundamente.

Nessa época, ainda não havia energia elétrica em Nova-Cruz, e, por isso, ventilador não existia. Ar condicionado, então, era “estória de trancoso”.

O barulho foi grande, pois, além do ronco do suposto barrão, os meus gritos de pavor acordaram outras pessoas que dormiam na casa. Somente o meu avô, Manoel Ursulino, continuou dormindo “em berço esplêndido”.

Só acordou pela manhã, alheio ao transtorno que o seu ronco havia causado à neta.  



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