O RONCO
(Por Violante
Pimentel) O ronco é responsável por muitas discórdias
entre casais. Nada mais incômodo do que uma pessoa roncando de madrugada,
perturbando e apavorando quem dorme. Na mesma cama, então, o resultado pode ser
trágico.
Quando ouço alguém roncar, penso que aquela pessoa está morrendo e
fico apavorada. Não consigo dormir, e fico aguardando algum problema de saúde
sério para quem está roncando. Tenho trauma de infância...
Era véspera de Ano Novo e todas as pessoas da nossa casa tinham ido
aguardar a passagem do ano na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, assistindo à
Missa. Como eu era a caçula e só tinha cinco anos, minha mãe me deixou dormindo
na casa dos meus avós, que era vizinha à nossa casa.
Dormia profundamente, quando fui acordada pelo ronco de um barrão
que meu avô criava. O barrão era enorme, e eu sentia medo dele. O barulho era
tão grande que eu me assombrei. Acreditava que, a qualquer momento, o animal
entraria no quarto para me morder dentro da rede. De repente, ele fez uma pausa
e parou de roncar por alguns segundos. Acreditei que tivesse abandonado a casa
e voltado para o quintal. Ledo engano. O barrão voltou a roncar ainda mais
forte.
Entrei em pânico e fiz um verdadeiro escândalo. Na minha cabeça, o
barrão estava prestes a me atacar. Do quarto onde estava, gritei pela minha
avó, Júlia, pedindo socorro:
- VÓ, OU VÓ, AQUI TEM PORCO!!! O BARRÃO TÁ DENTRO DE CASA!!!
Violante Pimentel é procuradora
aposentada do Rio Grande do Norte
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A avó correu pra me acudir, mas, ao sair do quarto, percebeu que o
ronco não era do barrão. O ronco era do meu avô, que, fugindo do calor insuportável
do quarto, havia armado sua rede na sala, onde dormia profundamente.
Nessa época, ainda não havia energia elétrica em Nova-Cruz, e, por
isso, ventilador não existia. Ar condicionado, então, era “estória de
trancoso”.
O barulho foi grande, pois, além do ronco do suposto barrão, os meus
gritos de pavor acordaram outras pessoas que dormiam na casa. Somente o meu
avô, Manoel Ursulino, continuou dormindo “em berço esplêndido”.
Só acordou pela manhã, alheio ao transtorno que o seu ronco havia
causado à neta.
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