domingo, 22 de novembro de 2015

QUASE HISTÓRIAS (CV)


GORDUCHOS: A CULPA É NOSSA!

Que a caça aos gorduchos ultrapassou todos os limites e mais um pouco, nem um magro intelectualmente honesto pode negar. Há tempos, nós – que em passado longínquo éramos chamados de fofos – passamos a ser uma espécie de praga universal, peste a ser erradicada. Somos responsáveis por toda e qualquer desgraça – do efeito estufa à alta do preço do tomate, do rombo da Previdência à precariedade do Sistema Único de Saúde (SUS), da situação calamitosa das calçadas à lentidão das filas. E o que é pior: não há uma mísera ONG que nos defenda.

Um amigo meu – gorducho – foi acusado de provocar acidentes de trânsito.

-- Eu? Não tenho carro. Eu nem sei dirigir. Só atravesso na faixa de pedestres, respeito todos os sinais – tentou se explicar. Em vão. Seu acusador devolveu de primeira:

-- Eu sei, eu sei. Mas, de que adianta tanta prudência? Um corpanzil desses, chupando sorvete e caminhando livre, pesado e solto pelas calçadas, desvia a atenção de quem dirige. Até uma foca amestrada sabe disso.

Há coisas piores, no entanto, bem piores.

Dias atrás, um conhecido postou no FB uma mensagem em que justificava as razões pelas quais rompera a relação de amizade com um cliente. O homem, segundo ele, é dado a contar piadas bestas, do tipo:

-- Mulher gorda e pantufas a gente só usa em casa.

Que animal! O conhecido fez bem em romper com a anta, que é quase um obeso mórbido. Nem os gordos se respeitam mais. Riem de si próprios. Aonde vamos parar?

Enquanto os magros riem dos gordos – e os gordos riem deles próprios –, a ganância mostra suas garras afiadas. Bem feito, bem feito. Desunidos, não chegaremos a lugar algum que preste. Leio nas folhas que uma companhia aérea do Pacífico Sul, não contente em pesar as malas, obriga o passageiro a subir na balança. Quanto maior o peso da bagagem e, principalmente, do viajante, mais cara a passagem. Não está longe o dia em que funcionários das companhias aéreas dirão aos mais pesados:

-- Por favor, dirijam-se ao setor de cargas. Esta balança aqui, para pessoas normais, não dá conta da massa corporal de gente como vocês.

Que barbaridade. (OS)


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