domingo, 29 de novembro de 2015

QUASE HISTÓRIAS (CX)


O REI DO BALCÃO

Dizem que o dinheiro não aceita desaforo. Se isso vale para os ricos, que dirá para os pobres? Todo deslumbrado é um idiota. E a idiotia é doença incurável. Quando o sujeito pensa que não tem mais nada a perder, ela (a idiotia) volta com tudo. E joga ele (o deslumbrado) de novo no chão.

Anos atrás, bote anos nisso, conheci um sujeito que, nos finais de semana, frequentava o mesmo boteco que eu. Ele sempre aparecia com seu filho pequeno e único. Gostava de falar alto, de exibir sua arrogância analfabeta e ostentar uma riqueza que não tinha. Se o moleque lhe pedia um chocolate, ele comprava a caixa toda. Ou, pelo menos, todos os confeitos que nela estavam. Se o guri lhe pedia bala, seguia a mesma trilha. Que viessem todos os dropes. Na hora de pagar a conta, que sempre pedia em alto som, sacava do bolso maços de dinheiro. E virava-se para quem estivesse mais próximo e lhe perguntava: “Quer tomar mais uma”? Não esperava pela resposta. Mandava o dono do boteco por mais uma. “Essa é por minha conta”.

Gostava de alardear que era braço direito de um dos principais doleiros da capital.

Não demorou muito o sujeito sumiu. Soube-se que caíra em desgraça com o chefe. E que, por isso, não arrumaria mais emprego com doleiro algum. Mafiosos são unidos. Como não tinha outra “qualificação” profissional...


Tempos depois nos encontramos numa padaria ao lado de sua casa. Estava só. Cadê o menino? Ele fez de conta que não me viu. Eu também disfarcei, nunca tivemos intimidade. Pediu dois pãezinhos, passou batido pelas caixas de guloseimas e se foi como entrou – de cabeça baixa. (2013)

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