Sob o aval de grandes nomes is que surge um promissor talento em nossa música
A cantora e compositora mineira vem, projeto a projeto, mostrando o porquê está sendo considerada como uma das mais gratas surpresas da boa música brasileira
Natural de Guaxupé (cidade mineira localizada a pouco mais de 470 km da capital Belo Horizonte) Márcia Tauil apresenta-se de peito aberto e de modo pleno no exercício de seu ofício. Em corpo, alma e verdade a artista vem, em quinze anos de carreira, construindo um sólido caminho pautado na qualidade de repertório e interpretações marcantes. Cantora, compositora e professora de canto, Tauil traz por característica naquilo que faz segurança e talento; seja a partir de projetos paralelos dos quais participou, seja em seus materiais fonográficos solos como os dois álbuns lançados até então. Seu primeiro disco, datado de 1999, traz por título "Águas da Cidade", nome de uma das canções presentes no álbum composta pelo mocoquense Kiko Zamarian. Além da faixa citada o disco também apresenta canções inéditas e releituras de artistas como Djavan ("Esfinge") e Chico Buarque ("Mambembe") mostrando outra característica que a faz uma das mais promissoras artistas da nova geração da música brasileira contemporânea: a interpretação precisamente endossada pela técnica e pela devida segurança que a canção exige não deixando-se abster pela medida certa de sensibilidade como se é possível atestar ao ouvi-la. Este debute fonográfico, além de apresentar características que permeiam sua carreira até os dias atuais, também é responsável pelas primeiras manifestações de reconhecimento também dos profissionais que atuam na área musical. É em "Águas da Cidade" que a artista começa a tecer habilmente vigorosos adjetivos que adornam a sua arte dando a ela o preciso contorno para o seu reconhecimento. Um trabalho que assim como quem o assina apresenta traços de "força, domínio e delicadeza impressionantes", assim como descreve a colega de profissão Vânia Bastos.
Tal reconhecimento expandiu-se ao ponto de chamar a atenção de colegas de profissão conceituados como foi o caso do cantor, compositor, instrumentista e arranjador Eduardo Gudin, autor de mais de trezentas canções e responsável por composições de grande sucesso na música popular brasileira ora solo, ora em parceria com outras relevantes figuras do cancioneiro nacional. Parceiro de nomes como Paulo César Pinheiro, Luiz Tati, Arrigo Barnabé, Paulinho da Viola entre outros, regularmente Gudintem sua vasta obra visitada por grandes intérpretes em espetáculos e discos por grandes intérpretes. No caso de "Sementes no Vento" (título homônimo a uma das canções presente no projeto) não trata-se de mais um mero tributo, neste disco Gudin confiou a artista guaxupeana a interpretação de treze parcerias suas com o advogado e militante em direito autoral José Carlos Costa Netto neste que viria a ser o segundo projeto fonográfico da carreira da cantora e compositora. O belíssimo álbum, editado além do Brasil no Japão pela gravadora Ward Records, reafirma o garbo da interpretação de Tauil rendendo-lhe uma reiteração quanto a boa aceitação tanto da crítica especializada quanto do grande público a partir das elegantes interpretações de canções como “O carnaval de cada dia”, “Coração aberto”, “Verões virão”, além de clássicos como “Paulista” e “Verde” (a canção mais conhecida da dupla por ter sido interpretada por Leila Pinheiro em 1985 no Festival dos festivais da Rede Globo e que deu a intérprete o título de revelação do evento). Em síntese pode-se dizer que trata-se de um projeto que traz em seu bojo além grandes compositores uma intérprete regida por uma tônica maior onde destaca-se a elegância e a suavidade de sua voz.
Desde então a cantora e compositora vem sedimentando a sua coesa carreira a partir das mais variadas atividades, incluindo aí a participação em distintos projetos fonográficos (a exemplo do Cd "Rios do Rio") assim como também em festivais musicais geralmente ocorridos nos Estados de São Paulo e Minas Gerais, que vem rendendo-lhe diversos prêmios por sua atuação, resultando na maioria das vezes, na primeira colocação, seja como compositora, seja como intérprete de tais eventos. Em plena atividade, a artista vem atualmente envolta a produção do seu terceiro álbum solo que contará, dentre outras novidades, músicas autorais inéditas e em parcerias, além de selecionadas canções conhecidas do público. Enquanto esta ideia não é concluída, Tauil vem mostrando a influência exercida por Roberto Menescal em sua atuação como compositora e intérprete a partir de mais um projeto ao qual participou cujo título é “Elas cantam Menescal.”, cd que presta uma singela homenagem a um dos grandes nomes de nossa música ao qual sempre admirou ao lado de outras três artistas: Cely Curado, Nathália Lima e Sandra Duailibe. Atualmente vem na elaboração de seu terceiro disco solo, onde registrará parcerias suas com a poetisa mineira Melissa Mundim, com Leandro Dias, um dos mais profícuos compositores da música do Pará, gravará parceria de José Carlos Costa Netto e Silvana Stiéano e contará com a participação mais que especial do seu amigo, parceiro e mestre Roberto Menescal.
Como alento aos ouvidos mais apurados o afinado canto de Márcia Tauil mostra-se verdadeiro bálsamo em meio a degradação na qual a música brasileira encontra-se inserida nos últimos tempos. É preciso atentar para nomes como o dela para atestar que ainda há esperança. Longe da degradação que atualmente rotula a nossa cultura de massa, a artista faz-se um dos nomes mais promissores da nova geração da MPB de modo bastante convicto. Instrumentista, cantora e compositora a artista prevalece-se da sensibilidade inerente a figura feminina para deixar aflorar de modo ímpar cada característica que dar vigor ao seu trabalho. Como artesã, Tauil sabe tecer como poucos todos os fios que unem de modo coerente e harmonioso os mais diversos sentimentos a partir de sua técnica impecável. Mesmo atuando como locutora de rádio e na apresentação de programas de televisão é sem dúvida alguma na música que ela encontra-se mais à vontade e apta a deixar fluir toda o talento ao qual faz jus. Seu canto simples e sem maiores firulas nos arrebata com a mesma verdade e volúpia com a qual se apresenta e isso já é o suficiente para fazer da artista, ao lado de nomes como Monica Salmaso, Roberta Sá, Marisa Monte e Verônica Ferriani, um das melhores e mais expressivas vozes do atual cenário musical em nosso país. Seu canto traz consigo a dosagem certa e precisa dos mais variados e nobres adjetivos, seu instrumento reverbera um estilo bastante particular e a sua composição arraigada por uma sonoridade moderna complementa de modo harmonioso o estilo que hoje a alavanca ao lugar de destaque ao qual se encontra dentro da MPB.
Deixo aos amigos leitores duas canções interpretadas pela artista em distintas fases de sua carreira. A primeira trata-se de uma composição de Sérgio Farias e Cristina Saraiva intitulada "Primeiro Olhar":
A segunda trata-se de um clássico da lavra de Antonio Carlos Jobim e Chico Buarque intitulada "Eu te amo":
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