SISTEMA ELEITORAL
BRASILEIRO
(Por Otávio Nunes) O sistema eleitoral brasileiro é dos mais democráticos do mundo. É
claro que o amigo não acredita, mas é mesmo. O problema é o ser humano, não as
leis. Vejamos. No Brasil a gente pratica voto majoritário (apenas uma vaga em
disputa, no caso do senador podem ser duas) para cargo executivo e voto
proporcional para parlamentar. Ponto para nós. Há países supercivilizados (EUA
e Inglaterra) que escolhem parlamentar por majoritário (é o chamado distrital
simples ou puro), sistema que costuma conduzir ao bipartidarismo, formar
oligarquias regionais e prejudicar minorias.
Até o majoritário no Brasil é mais justo. Em localidade com mais de
200 mil habitantes temos segundo turno, exceto para senador. Há países que
adotam maioria simples, fazendo com que um sujeito do executivo seja eleito por
25% a 30% dos votos, o que acarreta problemas de representatividade no
eleitorado. O segundo turno garante maioria absoluta e fim de papo. Não tem
discussão. Ponto para nós.
No proporcional, o brasileiro vota em lista aberta. Ou seja:
diretamente no candidato. É como se houvesse uma lista em nossa frente e a
gente pinçasse nosso candidato de dentro dela. "É você que eu quero, meu
fofo." Somente Brasil e Finlândia (pelas minhas parcas leituras) adotam
lista aberta. Nos outros países, a relação de candidatos é fechada e o eleitor
escolhe somente partido ou coligação. Os eleitos são os primeiros da lista. Se
o partido ou coligação tiver direito a 10 vereadores ou deputados, serão
automaticamente os 10 primeiros da relação, feita anteriormente pelos partidos.
O eleitor não pode escolher candidatos, apenas o partido. No Brasil, não. Nós
escolhemos o sujeito lá dentro, na lista aberta, sem vinculação de partidos ou
coligações para os cargos em disputa. É tudo livre. Mais um ponto para nós.
Nosso quociente eleitoral é matematicamente justo: número de votos
válidos divididos pelo número de cadeiras no parlamento. Há países que calculam
o quociente usando o número total de eleitores ou da população. Não é justo,
pois nem todo mundo vota, e vota válido. O justo é considerar apenas os
válidos. Outro ponto para nós. No Brasil, branco e nulo só servem para
estatística. A palavra correta é quociente eleitoral, e não coeficiente, por
ser resultado de divisão matemática. Tem muito jornalista que usa coeficiente
por achar mais bonitinho que quociente.
Muitos criticam o sistema proporcional brasileiro por permitir o
cacareco, que sozinho ultrapassa o quociente eleitoral várias vezes e leva três
ou quatro candidatos inexpressivos juntos como ele. É esquisito, mas não
injusto. Que culpa tem a lei se o eleitor vota no cacareco? A lei leva em conta
o voto, sempre. Se o sujeito votou em alguém, sua vontade é respeitada. Se o
voto é válido, vale, desculpem o pleonasmo. Quem interpreta tal candidato como
cacareco somos nós, não a lei. O legislador, ao elaborar tal norma, estava
imbuído de razão. Qualquer que seja o voto (válido) tem de ser computado. Se
alguém mexer nesta característica, para evitar o cacareco, derruba todo o
sistema proporcional. É a base dele. Aliás, as vantagens desta metodologia são
maiores que as desvantagens.
Tem gente que defende o distrital simples para cargo parlamentar. É
controverso, como tudo neste mundo, mas muitos asseguram que o distrital puro,
por ser majoritário, conduz ao bipartidarismo e prejudica as minorias (um líder
comunitário, por exemplo) que não têm dinheiro para investir na campanha e
ficam de fora. Digamos que o distrito (bairro) de Santo Amaro, cá na Capital,
tenha direito a 10 vereadores. Provavelmente, pelo voto majoritário, serão
eleitos os 10 mais ricos.
OTÁVIO NUNES É JORNALISTA |
Temos de reconhecer, porém, que o distrital puro apresenta uma
senhora vantagem em relação ao nosso proporcional de hoje. Teoricamente, vamos
eleger alguém próximo a nós e conhecedor dos problemas de nosso distrito. Mas
será que é vantagem ser vizinho de vereador?
Há quem defenda o distrital misto, criação genial dos alemães após a
Segunda Guerra, mas muito complicado para explicar e pior para entender. Mas em
suma é o seguinte: dos 10 de Santo Amaro, metade seria eleita por majoritário e
outra pelo proporcional. Assim, conserva-se a vantagem do vereador ser do nosso
bairro e reduz a desvantagem de formar oligarquias, beneficiando a minoria.
A desvantagem do criativo sistema alemão é a difícil execução e uma
infinidade de variações: podem ser 50% a 50%, 70 a 30, 60 a 40, 90 a 10 e vai
por aí. O eleitor teria de votar duas vezes. Imaginem a dificuldade para
entender tal prática se o nosso proporcional já causa tanta celeuma e fila.
Se o sistema eleitoral brasileiro é dos mais democráticos do mundo,
mesmo porque é recente e foi feito com base no que já existia no mundo,
diferente de outros países que adotaram regras, por si só, há séculos, por que
sofremos tanto com nossos políticos? Responda como achar melhor, meu amigo. O
problema, talvez, não esteja no sistema (a lei) mas na qualidade. Na qualidade
do eleitor e do eleito. E para isto, o único remédio é o tempo, que fará
(talvez) do brasileiro um eleitor mais crítico e um candidato mais honesto. O
voto facultativo também poderia colaborar para aumentar a qualidade e reduzir o
cacareco, embora apresente algumas desvantagens, também, como a provável
elitização do voto, baseada na hipótese de que rico e classe média saem de casa
para votar em seus candidatos, enquanto o pobre, não, ou muito pouco. Mas isso
é discutível. A grande vantagem do facultativo é, realmente, votar quem quer, e
ponto. Até mais.
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