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Uma oportunidade daquelas - a de estar a sós com a
visita – ele não perderia de jeito maneira. O tempo era demasiado curto. Deixou
de caçar o bicho de pé imaginário. Foi ao assunto. O Velho Marinheiro, nosso Lobo
do Mar – como sabemos – sempre primou pela objetividade:
-- Qual é mesmo sua graça?
-- Filomena.
-- Nome lindo demais. Tive uma namorada com esse
nome. Faz tempo... Vou dispensar “dona”, porque tenho idade pra ser seu pai.
-- Claro, fique à vontade, seu...
-- Lobo do Mar. Filomena, eu gostei de sua prosa.
Mulher não deve ter vergonha de ser gorda. Você tem seios fartos, quadris
largos e devidamente encapados, cintura de pilão, como deve ser a mulher de
bem, de interesse público.
-- Obrigado – respondeu a visita, constrangida.
-- Vai reclamar de quê? Vai deixar de comer e beber
do bom e melhor, se não tem colesterol nem diabetes? Não ligue pra homem que
bota reparo em celulite e peitos caídos. Homem queixoso dessas coisas não é
homem...
A filha, que sempre teve ouvidos apurados, gritou da
cozinha:
-- Papai! Papai do céu! Vamos parar?
-- Faça uns bolinhos de chuva pra “dona” Filomena,
que veio de longe pra lhe visitar e não é mulher pra café bebido – rebateu o Velho
Marinheiro. Não tenha pressa. Capriche. Esta minha filha é uma atordoada.
E ele voltou, imediatamente, ao assunto de seu
interesse:
-- Filó: como seu marido lhe trata?
A visita foi salva pelo gongo. Esbaforida, a filha
do Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar, entrou na sala com a bandeja.
-- E os bolinhos de chuva, cadê? – quis saber o caçador
de bicho de pé imaginário. Já estão na frigideira?
-- Vou servir bolacha, papai. Vai descansar, por
favor.
-- Que miséria! Vou, sim. Está na hora. Foi um
prazer conhecê-la, “dona” Filomena. Se precisar de algo, estou por aqui. Daqui
nunca saio. De terça e quinta, passo o dia só. Apareça, Filó. Pra papear. (2013)
Muito bom!!
ResponderExcluirObrigado, amiga. Abraço.
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