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O “HOMEM DA CASA”
Domingo de sol, domingo maravilhoso. Piscina limpa, comida farta. O
homem da casa saiu para comprar pães, cerveja e umas coisinhas a mais. Não se
esqueceu de comprar nada. Sabedor de sua cabeça fraca, ele anotava tudo:
produtos e marcas. Foi recebido, na própria casa, com espanto, em vez de festa.
Todo mundo em pânico, menos o verdadeiro “homem” da casa, Nilza, bisavó, de
setenta e poucos anos, criada na roça, mais prática impossível. Um rato imenso,
saído sabe Deus de onde, veio do quintal, atravessou todas as fronteiras reais
e imaginárias e se instalou num dos quartos – o do casal – sob um dos
criados-mudos.
E ele dali jamais sairia, se dependesse dos homens da casa. Alguém teve
coragem para fechar a porta do quarto. Faltava alguém com coragem de abri-la.
Ninguém se dispôs. Mas um domingo daqueles ninguém poderia, de forma alguma,
perder. Um aparentado teve uma ideia: chamar o irmão, exímio atirador, um ás
com espingarda de chumbinho. Foi recebido com pompas e circunstâncias, o
atirador. Ele disparou vários tiros, furou a parede toda. E o rato, incólume
colosso. A velha avó olhava aquilo tudo com indisfarçável irritação. Resolveu dar
uma basta à vergonha, foi até a lavanderia, pegou a vassoura e logo avisou: “Saiam
da frente, frouxos!”.
De nada adiantaram o muxoxos insinceros: “Não faça isso, vovó”, “A
senhora não faça coisa dessas”, “Vou buscar mais munição”, dizia o atirador
fracassado. A bisavó entrou no quarto. Não gastou
dois minutos para acabar com o inimigo. Abriu a porta, pediu a pá, recolheu os
restos mortais do rato e os colocou num saco de lixo.
-- Há um homem aqui pra lavar o piso? Ou vou ter que fazer isso também?
Não havia, todo mundo cheio de dedos e nojo. Sabem como é?
A comidinha estava excelente. Boa demais. Carne macia, pãezinhos da
hora, cerveja gelada. Mas que foi um dos churrascos mais envergonhados de
nossas vidas foi mesmo. (JANEIRO/ 2014)
ABESTALHADO
Aquela pressa desde sempre presente, aquele desassossego sem trégua... Nada
daquilo lhe serviu pra nada. E ele sempre soube disso. E ele nunca mudou. Saber
não basta. (DEZEMBRO/2013)
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