quarta-feira, 21 de outubro de 2015

COISAS DA VIDA


DESILUSÃO

(Por Violante Pimentel) Dra. Zélia é uma médica rica e independente. Não é tipo de beleza, mas é muito elegante e vaidosa. Veste-se com roupas de grife, usa perfume da melhor qualidade, e está sempre de cabelo arrumado e maquiada. Apesar de já ter passado dos cinquenta anos, ainda é muito fogosa e gosta de dizer que é uma mulher "hormonal". Diz que tão cedo não "jogará a toalha". À medida que a idade avança, mais ela sente vontade de namorar. Às vezes, sente-se decepcionada com o comportamento dos homens. Teve a última decepção, quando arranjou um paquera, num barzinho, e terminou levando-o a um motel. Havia bebido bastante whisky, e depois de muita atividade na cama, adormeceu profundamente. Acordou assustada, ainda de madrugada, com o rapaz lhe implorando que o levasse para casa. Disse-lhe que era padeiro e deveria estar na padaria às três horas da madrugada, sob pena de perder o emprego.

Nesse momento, Dra. Zélia sentiu o peso do desnível social que a cerca, e teve vergonha dos paqueras sem futuro que arranja. O pior é que, mesmo dizendo “menas gente”, “nesse interím” e “o pessoal já foram”, e sem uma prata no bolso, esses tipos ainda brincam com os seus sentimentos. Não lhe guardam fidelidade e são apenas “ficantes”.

Afinal, dizem que, no Rio Grande do Norte, há 15 mulheres para cada homem, sem falar nos homossexuais, que agora entram na concorrência, prejudicando as mulheres.

Contra a vontade, Dra. Zélia está se conscientizando de que deve se aquietar, e esperar que o destino coloque alguém em sua vida, que esteja à sua altura. Afinal, sempre ouviu o ditado popular “casamento e mortalha no céu se talha.” Já sonhou muito com um príncipe encantado, montado num cavalo branco, vindo pedir sua mão em casamento. Agora, decepcionada, e quase dobrando o “cabo da Boa Esperança”, anseia apenas por um homem bom que a queira. Não precisa ser um príncipe, montado num cavalo branco. Nessas alturas, a médica aceita que o seu homem venha, até mesmo, montado num jegue.

Numa certa noite, lendo um jornal diário de Natal, a médica ficou chocada com casos de estupros praticados na Via Costeira. Imaginando as horríveis cenas narradas pelo jornal, a mulher imaginou-se no lugar de uma das vítimas, e desejou ser estuprada. Na noite seguinte, logo cedo, dirigiu-se à Via Costeira, onde estacionou o carro. Ligou o som alto e baixou os vidros. Abriu as portas do carrão, e continuou aguardando os acontecimentos.

Violante Pimentel
Violante Pimentel
 é procuradora aposentada
  do Estado do Rio Grande do Norte
De vez em quando, passavam algumas pessoas e a olhavam surpresas. Já tarde da noite, dois rapazes, bonitões e de aparência humilde, pararam perto do carro. Olharam-na insistentemente, e se aproximaram. Ela ficou certa de que iria viver seu momento de fama. Finalmente, iria ser estuprada!!! Naquele trecho ermo e perigoso de Natal, Dra. Zélia viu-se frente à frente com esses dois homens desconhecidos, e aguardou as ordens. Um deles falou:

_ Tia, vá embora daqui, pois a senhora está correndo o risco de ser assaltada e estuprada!!!

Mais uma desilusão...



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