DESILUSÃO
(Por Violante Pimentel)
Dra. Zélia é uma médica rica e independente. Não é tipo de beleza, mas é muito
elegante e vaidosa. Veste-se com roupas de grife, usa perfume da melhor
qualidade, e está sempre de cabelo arrumado e maquiada. Apesar de já ter
passado dos cinquenta anos, ainda é muito fogosa e gosta de dizer que é uma
mulher "hormonal". Diz que tão cedo não "jogará a toalha".
À medida que a idade avança, mais ela sente vontade de namorar. Às vezes,
sente-se decepcionada com o comportamento dos homens. Teve a última decepção,
quando arranjou um paquera, num barzinho, e terminou levando-o a um motel.
Havia bebido bastante whisky, e depois de muita atividade na cama, adormeceu
profundamente. Acordou assustada, ainda de madrugada, com o rapaz lhe
implorando que o levasse para casa. Disse-lhe que era padeiro e deveria estar
na padaria às três horas da madrugada, sob pena de perder o emprego.
Nesse
momento, Dra. Zélia sentiu o peso do desnível social que a cerca, e teve
vergonha dos paqueras sem futuro que arranja. O pior é que, mesmo dizendo
“menas gente”, “nesse interím” e “o pessoal já foram”, e sem uma prata no
bolso, esses tipos ainda brincam com os seus sentimentos. Não lhe guardam
fidelidade e são apenas “ficantes”.
Afinal,
dizem que, no Rio Grande do Norte, há 15 mulheres para cada homem, sem falar
nos homossexuais, que agora entram na concorrência, prejudicando as mulheres.
Contra
a vontade, Dra. Zélia está se conscientizando de que deve se aquietar, e
esperar que o destino coloque alguém em sua vida, que esteja à sua altura.
Afinal, sempre ouviu o ditado popular “casamento e mortalha no céu se talha.”
Já sonhou muito com um príncipe encantado, montado num cavalo branco, vindo
pedir sua mão em casamento. Agora, decepcionada, e quase dobrando o “cabo da
Boa Esperança”, anseia apenas por um homem bom que a queira. Não precisa ser um
príncipe, montado num cavalo branco. Nessas alturas, a médica aceita que o seu
homem venha, até mesmo, montado num jegue.
Numa
certa noite, lendo um jornal diário de Natal, a médica ficou chocada com casos
de estupros praticados na Via Costeira. Imaginando as horríveis cenas narradas
pelo jornal, a mulher imaginou-se no lugar de uma das vítimas, e desejou ser
estuprada. Na noite seguinte, logo cedo, dirigiu-se à Via Costeira, onde
estacionou o carro. Ligou o som alto e baixou os vidros. Abriu as portas do
carrão, e continuou aguardando os acontecimentos.
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De
vez em quando, passavam algumas pessoas e a olhavam surpresas. Já tarde da
noite, dois rapazes, bonitões e de aparência humilde, pararam perto do carro.
Olharam-na insistentemente, e se aproximaram. Ela ficou certa de que iria viver
seu momento de fama. Finalmente, iria ser estuprada!!! Naquele trecho ermo e
perigoso de Natal, Dra. Zélia viu-se frente à frente com esses dois homens
desconhecidos, e aguardou as ordens. Um deles falou:
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Tia, vá embora daqui, pois a senhora está correndo o risco de ser assaltada e
estuprada!!!
Mais
uma desilusão...
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