É
bem possível que os amigos não se lembrem da história. De histórias tristes
procuramos nos esquecer. Também ninguém é obrigado a ler tudo o que sai nas
redes sociais, sites e blogs. Eu mesmo, não raro, nem me lembro do que escrevi
ontem. Nestes dias, a mulher de décadas, sorvendo sorvetes, diz que a culpa é
do destilado. Discussão sem fim. Inútil.
O
fato é que a vida conjugal de Vicente e Fátima virou bagunça sem fim. É pena, são
tão queridos. Mas daquele mato não sai mais coelho. Eis a verdade: aquele
casamento de quase trinta anos está com os dias contados. Disso ninguém duvida.
Nem os filhos – tietes da mãe. Como sempre acontece nas melhores e piores
famílias.
Vicente
é dono de boteco. Fátima, além de esposa, quituteira de mão cheia. Fátima
ingressou em uma religião dos últimos dias e passou a implicar com todos os
fregueses que entornam uca e jogam bilhar. Vicente foi à loucura. “Você quer
acabar com nosso sustento, demônio” dizia ele, verificador da clientela
minguante e das despesas crescentes. Não sei se sabem: o dízimo, às vezes, custa
aos incautos os olhos da cara. Melhor morrer pagão.
Foram
meses de peleja. Fátima se reconverteu. Caiu em si. Voltou a vender pinga com
alegria inaudita. Não há bispo e bispa que enganem todos por todo o tempo.
A prosperidade deles se dá por uma simples razão: sempre vêm outros, tolos abundam.
Um
dia, quase de repente, um clarão iluminou a mente de Fátima. Era como se um
anjo lhe dissesse: “Fátima: bebe, fuma e joga bilhar quem quer. De salvadores
da pátria o mundo está cheio. E seu bispo, vagabundo, oportunista, que se
ferre. Cuide de seu negócio.”
Vicente
tinha tudo pra voltar a sorrir. Qual o quê! A cantilena sem trégua de Fátima
lhe calou fundo na alma: Vicente aderira à seita. E hoje quem impreca contra a
uca e o jogo é ele. Desespero de Fátima: “Ele quer acabar com nosso negócio.
Ainda me desgarro desse homem”. (outubro de 2013)
Leiam também FECHA A BOCA, FÁTIMA:
Adorei. Agora chegou a vez de Vicente implicar com os fregueses. Beijos, ficou como sempre ótima. Sou suspeita em falar, porque sou sua fã número 02, isso para não brigar com Sabiá.
ResponderExcluirObrigado, abraços.
ResponderExcluirGostei da lei do retorno! Fátima pagou o que fez com o marido!!! Agora era a sua vez de sofrer com as chatices dele, implicando com os fregueses...rsrsrsrs
ResponderExcluirParabéns pela excelente crônica, Orlando Silveira!
Um abraço.
Muito bom! Adoro ler seus contos amigo. Parabéns sempre!
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