quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

COISAS DA VIDA

 O ELEITOR

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte
 Em plena campanha eleitoral para governador do Estado, um conhecido deputado, candidato à reeleição, após um comício numa cidade do interior, foi dormir em sua fazenda, que ficava a poucos quilômetros de distância. De manhã cedo, acordou com alguém batendo palmas no portão. Era a mulher de um antigo eleitor, muito aflita, à procura de socorro para o marido, que estava passando mal. Segundo ela, no jantar da noite anterior, o homem havia exagerado na coalhada com rapadura, e ainda não tinha parado de vomitar.

O deputado, para ser simpático, resolveu transportar o eleitor para um hospital público de Natal, para ser medicado. Mandou, então, que acomodassem o doente no banco de trás do seu luxuoso carro, e sentou-se no banco da frente, ao lado do motorista.

A violenta indisposição gástrica, realmente, havia derrubado o homem, que, agora, passava por maus momentos. Após uma noite inteira de fermentação, a barriga do eleitor, cheia de gazes, parecia um zabumba.

O gesto caridoso do deputado, certamente, iria comover as pessoas da redondeza, e lhe serviria para angariar alguns votos a mais.

Nessa época, as estradas eram de barro e esburacadas. Com os constantes solavancos do carro, o mal-estar do doente aumentou, ainda mais, durante a viagem. O pobre coitado sofria com os balanços e com os “embrulhos” no estômago. Não parava de vomitar. Muito encabulado, mesmo trincando os dentes, não podia evitar que os salpicos dos resíduos estomacais atingissem as costas do deputado.

A coisa foi ficando feia, e o deputado olhou para trás, visivelmente irritado, ao sentir sua camisa molhada de vômito. Estava bastante chateado e arrependido de estar transportando o doente na sua “Hilux”. Num dado momento, o parlamentar olhou para trás e resmungou um palavrão. O velho eleitor percebeu a sua irritação, e então, num humilde pedindo de desculpa, balbuciou:

- Calma, “cumpade”…o soro vai, mas a “quaiada” fica…

Essa viagem deixou o deputado tão contrariado, que, para esquecê-la, trocou de carro na mesma semana, e fez uma jura de nunca mais fazer sua “Hilux” de ambulância, para eleitor nenhum.


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