quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

COISAS DA VIDA

GOSTO NÃO SE DISCUTE

(POR VIOLANTE PIMENTEL) José Manoel era um homem de quarenta anos, que trabalhava descarregando os caminhões de algodão numa Usina de Nova-Cruz (RN). Levava uma vida calma, e sua alegria maior era o amor de sua mulher Laurinda e dos três filhos pequenos. Gostava do seu trabalho, e, como pobre, não tinha grandes aspirações. Uma vez por outra, tomava umas cachaças, mas nada em excesso, que prejudicasse a paz de sua família. Laurinda, a esposa, procurava ganhar algum dinheiro, lavando e engomando para pessoas ricas da cidade.

De um dia para outro, José Manoel virou a cabeça, ao ver desembarcar na estação ferroviária da cidade uma mulata bonita e faceira, por nome Zilda. A criatura chegara para ser hóspede de uma prima que morava na Rua do Sapo, zona do baixo meretrício de Nova-Cruz. Foi uma paixão violenta, e o homem se enfeitiçou de tal forma pela mulher, que passou a ser frequentador assíduo daquele ambiente de amores escusos e paixões sem amanhã, coisa que antes não fazia. De repente, o homem esqueceu de que tinha mulher e filhos, agindo como se fosse solteiro. Entregou-se completamente à boemia, e se enrabichou, perdidamente, pela novata da Rua do Sapo.

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

Laurinda, percebendo a mudança de comportamento do marido, logo se convenceu de que no meio daquilo tudo havia alguma sirigaita. Usando seu sexto sentido e conversando com um e com outro, foi fácil descobrir o motivo de tudo. Acabou-se a paz dentro de casa, vieram as brigas, e José Manoel avisou a Laurinda que iria se separar dela. Desesperada, a esposa procurou um conhecido bodegueiro, seu amigo e padrinho do seu filho mais velho, de nove anos, para contar o drama por que estava passando. Pediu ao compadre que procurasse José Manoel e lhe desse uns conselhos, para que ele não abandonasse a família. O homem foi ao encontro de José Manoel e falou:

- Compadre, eu soube de umas coisas, e só acreditei porque comadre Laurinda confirmou. Você que era tão bom pra sua família, de repente se transformou num homem sem responsabilidade e está querendo deixar sua casa, por causa de uma vagabunda!…Você ficou doido, homem?!!! Trocar a família por uma mulher da zona, que não é só sua!!!!

José Manoel, sem pestanejar, respondeu:

- Não, compadre, eu não endoideci!…Cada um tem seu destino...Eu passei dez anos comendo sem gostar da comida, feito um cachorro vira-lata! De repente me vejo comendo carne de primeira, filé de verdade!!! Sei que me apaixonei por uma mulher da vida! E daí? Eu me sinto muito mais feliz comendo um prato de filé junto com os amigos, do que comendo uma panela de cocô sozinho…

A tentativa do compadre foi em vão…




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