sábado, 27 de dezembro de 2014

CASA DE FERREIRO...


A mulher se gabava de resolver qualquer problema, a preços módicos – de desemprego a amor não correspondido, passando por vícios, depressão, ansiedade, gula, impotência, cólicas menstruais etc.

Era, segundo familiares, marido à frente, um fenômeno, muito embora ela não entortasse garfos e colheres com o olhar, como aquele paranormal israelense, que fez grande sucesso anos atrás.

Pra lá de Bagdá, o marido pediu a penúltima e abriu o jogo:

-- Zeca: hoje, de novo, não vou dormir em casa.

-- Por quê? - quis saber o colega de copo.

-- Pra não estragar o negócio da minha mulher.

-- Como assim? - insistiu o curioso, após mais uma talagada profissional.

-- Do jeito que o povo gosta de falar... Vão dizer que minha mulher não é de nada, que não consegue fazer o marido parar de beber... Mas ela é poderosa. Só que ninguém tem 100% de aproveitamento. Até Pelé perdeu gol feito... Comigo a coisa ainda não funcionou.

-- E você vai dormir onde? – perguntou-lhe Zeca, após mais um gole.

-- Na casa de uma coligada, viuvinha da hora. Boa de cama e de copo. Tchau.

-- Vai com Deus.

-- Fica com ele. Precisando pode procurar minha mulher. Ela atende até às 23h. Aceita todos os tíquetes (refeição, alimentação) e cartões de crédito. Só não faz fiado. Nem aceita cheque. Fui.

(fevereiro de 2013)


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