QUANDO
DEZEMBRO CHEGAVA
CLÓVIS CAMPÊLO |
Para mim, dezembro sempre
foi um mês especial.
Primeiro, por conta do meu
aniversário, no começo do mês. As alegrias começavam aí.
Depois, vinham as férias
escolares. A liberdade do final das aulas deixava em aberto a praia do Pina, as
peladas, as pescarias, as incursões no areial do Aeroclube, em busca de
passarinhos e barba-de-bode para construir as gaiolas.
Por falar em passarinhos, a
casa onde morávamos ficava junto ao Grupo Escolar Landelino Rocha, com um vasto
terreno repleto de pés de oitis da praia, onde os papacapins, canários e
patativas, quando chegava o verão, procriavam em profusão. No verão, aliás, o
nosso quintal se coloria de pássaros, em busca dos frutos das árvores plantadas
pelo meu pai.
Dezembro trazia e traz,
ainda hoje, a festa de Nossa Senhora da Conceição, que mesmo sem ser a
padroeira do Recife é reverenciada com fervor pela cidade inteira. E lá íamos
nós para o Morro da Conceição, em Casa Amarela, rezar aos pés da Santa e também
curtir o lado profano da festa.
Essa tradição de reverência
foi cultivada por dona Tereza, minha mãe, até o final da vida. Um ano, no dia 8
de dezembro, acordamos tarde e notamos a sua ausência. Saíra sem deixar nenhum
recado e sem dizer para onde ia. Já se aproximava a hora do almoço e nada de
notícias dela. Começávamos a ficar preocupados, quando vimos na televisão a
imagem da festa no morro e quem aparecia em primeiro plano? Exatamente ela,
dona Tereza, que tinha ido saldar o seu compromisso com a Santa.
Mas, dezembro também era a
perspectiva da aproximação do Natal, com suas festas, presentes, comidas e
comemorações, numa época em que os vizinhos ainda primavam por uma política do
bom relacionamento e da consideração.
Dezembro também trazia os
pastoris e os reisados, tradições culturais alimentadas e mantidas pelas
camadas mais pobres da população. Embora na minha rua tivesse um palco onde se
apresentava o Pastoril de “Seu” Nequinho, com o seu saxofone sempre em punho,
gostava de enveredar pelas comunidades do Encanta Moça e do Bode em busca de
outras alegrias e alegorias.
Era uma festa de cores, sons
e alegrias que culminava, no final do mês, com a entrada do Ano Novo.
Só não era feliz quem não
queria.
Recife,
2010
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