A INTIMAÇÃO
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(Por
Violante Pimentel) Joaquim
era um antigo oficial de justiça de uma pequena cidade do interior do Rio
Grande do Norte, e exercia o seu trabalho com satisfação. Era muito espirituoso, conversador, e cheio
de frases irônicas e inteligentes.
Gostava muito de ver a reação das pessoas intimadas ou citadas
judicialmente, principalmente quando eram ricas e metidas a importantes. Era
impressionante a sua fisionomia de júbilo, quando via a reação de revolta das
pessoas intimadas judicialmente. No seu
dia-a-dia, era comum ouvir palavrões contra o Juiz, Promotor, Advogado, ou
contra a própria Justiça. O trabalho que exercia, para ele, era um regozijo.
Fazia o que gostava, e deixava transparecer que se divertia com a irritação dos
outros.
Certa vez, levou uma
intimação a um fazendeiro rico da cidade, para que comparecesse ao fórum no
prazo marcado, para tratar de uma demanda trabalhista. Como portador não merece pancada, Joaquim, levou
a intimação ao fazendeiro, sabendo que iria ouvir muitos impropérios, pois o
respeitado cidadão era um “cavalo batizado". Tratava-se de um homenzarrão
de fazer medo, e sua voz estridente podia ser ouvida a um quarteirão de
distância.
O homem se recusou a receber o mandado. No dia
seguinte, Joaquim se dirigiu novamente à residência do fazendeiro, que não quis
nem conversa com ele. O oficial de justiça disse, então, à sua filha que, no
dia imediato, às 10 h, estaria ali para entregar a intimação. Seria o terceiro
e último dia do prazo legal, para a entrega do referido mandado.
Na manhã seguinte, à
hora marcada, estava Joaquim na porta da residência do fazendeiro. Dessa vez,
quem o recebeu foi a sua esposa, uma senhora calma e educada, exatamente o
oposto do marido. A mulher disse ao oficial de justiça que o esposo, em
hipótese alguma, iria receber qualquer intimação, nem assinaria qualquer
documento. Joaquim, então, insistiu com a mulher, dizendo-lhe que, de acordo
com a lei, teria que registrar essa recusa, e que ela mesma teria que receber e
assinar a contrafé do documento. Caso contrário, ele chamaria testemunhas para
registrar o fato.
Dona Rosilda, muito
nervosa, pediu licença para entrar e tentar convencer o marido a atender ao
oficial de justiça. Mas o resultado foi pior… O fazendeiro apareceu na porta,
indignado, esbravejando contra o Juiz, e contra o próprio oficial de justiça.
Num assomo de extrema grosseria, arrebatou das mãos do serventuário da justiça
a intimação, rasgando o documento em mil pedaços e, enfurecido, falou:
- Olhe, seu safado,
você diga ao Juiz que eu não assinei, nem assino coisa nenhuma, e que taqui
ó!!! Taqui pra ele, ó!!!
E estirou o seu enorme
dedo médio da mão direita, na cara do oficial de justiça, num gesto de
conhecida irreverência.
Joaquim empalideceu,
com medo de que o homem o agredisse fisicamente, mas logo se refez e o seu
senso de humor falou mais alto. Encarou o temido brutamontes, olhou bem nos
seus olhos e respondeu, também estirando
o dedo médio da mão direita para ele:
- TAQUI QUE EU DIGO,
Ó!!! TAQUI Ó!!!
E mais que depressa,
quase correndo, o oficial de justiça voltou ao Cartório, para as providências
cabíveis.
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