quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

NÚBIA NONATO

SEU JÚLIO

Núbia Nonato


(POR NÚBIA NONATO) Seu Júlio não é mais velho dos filhos da finada dona Ziza, mas, com certeza, é o que mais aprontou. Não podia ver rabo de saia e lá ia ele, até que enlaçado pelo destino se casou e produziu uma renque de filhos, somente as meninas vingaram, Deus sabe o porquê.

Era um pai estilo trovoada, quando rugia até a molecada corria, alguns se enfiavam embaixo da cama, aliás, foi numa dessas incursões que encontrei o laço do meu cabelo, sumido há tempos...

Gostávamos quando ele estava de serviço, aquele pequenino universo que habitávamos virava imensidão e a gente danava a fazer besteira.

"Pegávamos emprestado" frutas no quintal do Zé Turco, revirávamos seu lixo, podem crer, era lixo dos bons. Criança minha gente, não se aperta, se a barriguinha tá cheia, o resto é lucro.

Nunca passamos fome nessa vida, uma fartura de dar gosto, "fartava" quase tudo, mas meu pai sempre dava um jeito. Carne? Tinha não senhor. Leite, ovos e frutas? Ihhhhh...

Ah! Mas tinha o quintal do vizinho, aquele do lixo bom. Já vi seu Júlio chorar algumas vezes, uma doeu em mim, embora eu não entendesse, foi quando minha mãe perdeu um anjinho, nosso irmãozinho.

Chorou também num certo Natal, em que não havia nada sobre a mesa e ainda assim nos sentamos e ouvimos a oração de minha mãe. Suspiro bem comprido agora na certeza de uma saudade velada, meu pai ainda vive, mas o seu Júlio de minhas memórias já adormeceu há muito tempo...

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