quarta-feira, 26 de novembro de 2014

MUITO MELHORADA



(Por Violante Pimentel) Dr. Francisco Neves era médico do Serviço Especial de Saúde Pública, em Nova-Cruz (RN). Além do atendimento no Posto de Saúde do SESP, mantinha um consultório particular em casa, onde atendia pessoas ricas e pobres, sem distinção. Atendia, também, chamados a domicílio, quando alguém estava passando mal. Era um homem dedicado à Medicina e sabia honrar o juramento de Hipócrates. Não colocava o dinheiro acima da vida humana.  A Medicina para ele era um sacerdócio. 

Em casa de algumas pessoas humildes, o médico, às vezes, era presenteado com uma galinha, um peru, ou um pato, em agradecimento à consulta. Se o doente não tivesse condições de lhe dar nada, o tratamento era o mesmo.

No atendimento em seu consultório particular, quando se tratava de uma paciente já adulta, o primeiro procedimento exigido pelo Dr. Francisco Neves era um exame ginecológico, para coleta imediata de uma lâmina. Ele colhia a lâmina e ele mesmo fazia a análise. Essa prática era mal interpretada, e havia quem achasse que era enxerimento dele. Isso era motivo de comentários maldosos a seu respeito. Somente depois de muito tempo, o povo se conscientizou de que esse exame, exigido pelo Dr. Francisco Neves na década de 50 e 60, não passava de um exame preventivo, contra câncer de útero e outras doenças ginecológicas. Ele foi, portanto, em Nova-Cruz, o precursor do exame ginecológico preventivo.

Uma noite, Dr. Francisco Neves foi chamado para um atendimento a domicílio. A paciente era uma senhora que estava passando mal, com muito cansaço. O médico viu a gravidade do caso, mas, como na cidade não havia hospital, o jeito foi fazer o possível para tirá-la da crise. Utilizou os recursos de que dispunha, e lhe ministrou a medicação adequada, disponível na única farmácia da cidade. Aguardou que fizesse efeito e recomendou que o marido repetisse aquela medicação pela manhã. Prometeu que no dia seguinte retornaria para ver a paciente. Entretanto, aconselhou ao marido levá-la, com urgência, à capital do Estado, para uma consulta a um cardiologista.

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

O médico chegou em casa exausto, mas logo cedo acordou, ouvindo insistentes palmas no portão de sua casa.  Era o marido da paciente, para lhe comunicar que ela havia morrido. Surpreso e desapontado, Dr. Francisco Neves procurou palavras para confortar o viúvo, que estava inconsolável, mas somente acertou dizer:

- Escute bem, Seu Antônio: Dona Efigênia morreu, mas morreu muito melhorada!!! Aquele remédio que ela tomou ontem é o melhor do mundo!

Assinou o atestado de óbito da mulher e entregou ao viúvo. O homem, na sua humildade, não conseguia entender como é que sua esposa tinha morrido muito melhorada...Essa  história se espalhou na cidade e virou piada...

Pouco tempo depois, o médico voltou para Recife, sua terra natal, mas esse caso nunca foi esquecido.



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