AUTORRETRATO,
DE CLÓVIS CAMPÊLO.
NA INTERPRETAÇÃO
DE ANTÔNIO ABUJAMRA
AUTORRETRATO
Sou a reta e sou a
curva,
a mão esquerda e a
direita,
o verão na praia do
Pina
e a chuva que adoça o
caju.
Sou a revolução que não
houve,
as dúvidas da certeza
e a alegria das
dúvidas.
Sou o pai e sou o
filho,
o vento que anuncia
tempestades,
o raio que corta o céu
ao meio
no meio da tarde.
Sou martelo agalopado,
entidade de corpo
fechado,
soneto na nova medida
e a bandeira de São
João.
Sou Elefante e Pitombeiras,
sou o Galo da
Madrugada,
sou o barulho da feira
e o som da procissão.
Sou o amarelo de Nossa
Senhora
e o azul de Iemanjá,
sou calmaria sem vento,
sou selva de pedra e
cimento,
relva plantada no chão.
Sou o tudo e sou o
nada,
o silêncio e a
batucada;
sou o sul e sou o
norte,
faca cega e navalha de
corte.
Eu sou o fogo da vida
e sou o sopro da morte!
Recife, 2006
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