DE MODO NADA CONTUMAZ LEONARDO BESSA MOSTRA, DE MODO SOLO, AQUILO QUE LHE CONSTITUI
Quando nos referimos a samba de qualidade lembramos quase que de imediato do Rio de Janeiro, pois ao longo dos anos a cidade acabou tornando-se um dos maiores expoentes deste ritmo de raízes africanas. Nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho, Wilson Batista, Nelson Sargento, Walter Alfaiate, Noel Rosa e tantos outros não só transformaram-se em baluartes do gênero, mas como precursores fizeram verdadeiras escolas para toda uma geração de artistas que hoje figuram na vanguarda do gênero defendendo-o e fazendo com que o som que antes era feito nos morros tenha a oportunidade de descer ao asfalto figurando entre as referências da música brasileira atual.
Com esta possibilidade de sair dos morros cariocas o samba não só fincou raízes em outras pairagens assim como também agregou-se a outras manifestações culturais como o carnaval, onde a partir de 1873 através dos ranchos carnavalescos houveram as primeiras manifestações. Esses ranchos tinham como trilha sonora canções em sua maioria feitas com um andamento dolente, arrastado, deixando a euforia dos primeiros sambistas a ver navios, fazendo com que a insatisfação gerasse a ideia de criar um novo ritmo que permitisse cantar, dançar e desfilar, ao mesmo tempo. O cantor e compositor Ismael Silva apossou-se dessa ideia e juntamente com alguns amigos criou a escola "Deixa falar", um bloco carnavalesco e registrado, que fez a sua primeira aparição oficial no carnaval de 1929, na Praça Onze. Nos que sucederam este primeiro desfile foi possível perceber o surgimento de mais diversas agremiações para somar força, beleza e tradição as já existentes como é possível hoje atestar, principalmente através dos dois dias de desfiles no sambódromo carioca, evento este acompanhado por milhões de pessoas não só no Brasil como também no exterior através dos canais de televisão, tornando-se inclusive produto de exportação em nosso país. É nesse cenário, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, que surge Bessa, embebecido nesta forte tradição do universo do samba.
Leonardo deixou-se envolver com a música ainda criança talvez por influência do pai, o MaestroReginaldo Bessa (músico também bastante conhecido no universo carnavalesco carioca). Sua carreira neste universo musical teve seus primeiros passos na escola de samba mirim Alegria da Passarela, onde juntamente com nomes como Dudu Nobre e Anderson Leonardo (integrante e vocalista do grupo Molejo) atuou não só como intérprete assim como também como compositor; depois teve a oportunidade de atuar também na Aprendizes do Salgueiro, outra escola que deu a oportunidade de Leonardo mostrar suas habilidades musicais, tanto no instrumento quanto nas composições.
Desde os primeiros momentos descritos no parágrafo acima até os dias atuais passaram-se cerca de três décadas onde Leonardo, hoje com 39 anos, chegou a atuar em diversas escolas tais quais, além da já citadas, Beija-Flor, Grande Rio, Caprichosos e União da Ilha. Como intérprete oficial de escolas de samba, deu início a sua carreira por volta de 2004 no Arranco do Engenho de Dentro. Dois anos depois passou a defender a São Clemente durante três anos. Sem contar que também participa como interprete oficial no carnaval de Uruguaiana, Rio Grande do Sul onde já chegou a ganhar os carnavais de 2008 e 2009. Está atualmente na Acadêmicos do Salgueiro, onde iniciou como apoio de carro de som e hoje, após efetivado como intérprete oficial ao lado de Quinho e Serginho do Porto, solta a voz na cidade maravilhosa fazendo a Marquês de Sapucaí tremer. Além de intérprete Bessa já teve a oportunidade de mostrar suas habilidades como instrumentista acompanhando diversos nomes do samba como Bezerra da Silva, Moreira da Silva, Roberta Miranda, Jorge Benjor, seu pai, Neguinho da Beija-Flor e Jorge Aragão. Sem contar alguns projetos paralelos, como a produção dos cd's da Liga das Escolas de Samba do Grupo de acesso A e B.
Atualmente o artista vem mostrando ao grande público o seu primeiro disco solo, editado pela Sala de Som Records cujo título é "Parece um sonho". Um disco de essência autoral onde o artista dá vazão ao seu lado compositor assinando, além da faixa que batiza o disco, mais três das dez faixas existentes. Seu pai assina duas faixas em parceria com Délcio Carvalho e Ney Lopes. As outras canções presentes levam a assinatura de nomes como Gilson Bernine, Xande de Pilares, Sereno, André Renato, Espanhol,Silvio Paulo e Branca Dineve, que assina 'Salgueiro é uma raiz', canção que expressa sua afetividade à agremiação a qual defende. Além desse tributo a sua atual escola o disco aborda temas recorrentes como as relações afetivas e o amor e suas variantes como pode observar-se na faixa que dá nome ao álbum, 'Uma história de amor', 'Sinto que não acabou' e nas demais faixas. A saudade também é abordada na faixa 'Fragmentos'.
A ficha técnica do disco conta com nomes comoFabio Miudinho, Rafael Queiroz, Daniel Aranha, Vítor Botelho, Rafael Chaves,Fellipe (percussão geral); Luciano Broa ePaulo Bonfim (bateria); Charles Bonfim eDudu Dias (baixo); Celso Santana eSandro Cordeiro (teclado); Dirceu Leite(saxes e faluta); Geraldo Alves (trombone, trompete e fluggel); Gege e Rafael Prates(cavaco, violão e banjo); Daniel Aranha(bandolim e violão); Ewerton Cesar (violão);Carlinhos 7 cordas (violão); além do coro deJulia Alan, Babi Mello, Tuninho JR,Cloves Pe, Gabriel Teixeira, Débora Bessa e Marcelle Aranha. O disco ainda conta com a participação da Marcela Galv (cello) e da Bateria Furiosa do Salgueiro com Mestre Marcão,Guilherme, Gustavo, Lolo e Vítor.
Resta ao samba, o mais brasileiro dos ritmos, agradecer a Leonardo Bessa todo o serviço prestado e toda devoção dedicada a ele ao longo das últimas décadas e por muitas que virão. Leonardo traz em seu canto uma responsabilidade inata e um incontestável papel neste cenário musical. Pode-se afirmar hoje que seu canto, somado ao de outros intérpretes da atual cena do samba carioca, é talvez a mais representativa das vozes dessa variante do ritmo que fez que o carnaval carioca ganhasse proporções inimagináveis. Os seus samba-enredos sem dúvida alguma são responsáveis por uma parcela significativa pelo elo existente entre a contemporaneidade do samba com o tradicionalismo e o legado deixado pelos bambas de outrora.
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