A OBRIGAÇÃO DO MATRIMÔNIO
(Por Violante Pimentel) Havia em Nova-Cruz um
dono de mercearia, chamado Antônio Gato, casado, há bastante tempo, com
Zefinha, vinte anos mais jovem do que ele. O casal tinha três filhos ainda
pequenos e pretendia aumentar a prole. Formavam uma família feliz.
Zefinha, amante
calorosa, desempenhava muito bem as funções de dona de casa, esposa e mãe. O
tempo foi passando, e, de um dia pra noite, Antônio Gato começou a ficar
triste, sem graça, acabrunhado, irritado, com ar de preocupação, o que
despertou a atenção dos amigos mais próximos. Quando lhe perguntavam o que
estava acontecendo, a resposta era sempre negativa, e ele mudava de assunto.
Chegou um dia em que
ele, não suportando mais o problema que o afligia, dirigiu-se à casa de um
compadre seu, chamado Delmiro, comerciante antigo, muito religioso, que era uma
espécie de orientador espiritual da cidade. O compadre o recebeu muito bem e os
dois foram conversar a sós, numa sala reservada. Antônio Gato permaneceu em
silêncio algum tempo, mas depois criou coragem e falou:
- Compadre Delmiro, eu vim aqui conversar com
o senhor, sobre um problema que eu estou passando… O problema, compadre, é o
seguinte:
-- Já faz seis meses
que Zefinha, minha esposa, não quer mais cumprir a obrigação do matrimônio. Ela
não deixa mais eu fazer um carinho nela, não quer mais nada comigo na cama, e
foge de mim, como o diabo foge da cruz!… E o coitado começou a chorar. Constrangido
diante dessa cena, Seu Delmiro prometeu ao compadre que iria mandar chamar a
comadre Zefinha, para ter uma conversa com ela e dar-lhe uns conselhos.
Cumprindo a promessa, no dia seguinte, mandou chamar a comadre, que o atendeu
imediatamente. Um pouco assustada, Zefinha ouviu o que o homem tinha para lhe
dizer:
- Comadre, eu mandei chamar a senhora aqui pra
conversar, porque o compadre Antônio veio aqui ontem, muito abatido e triste, e
me contou que já faz seis meses que a senhora não quer cumprir a obrigação do
matrimônio. Isso é verdade, comadre? A mulher empalideceu de vergonha, baixou a
cabeça, calou-se por alguns minutos, até que, diante da insistência do
compadre, resolveu contar a verdade:
|
- Compadre Delmiro, eu não vou negar. O que
Antônio contou ao senhor é tudo verdade… Já faz seis meses que eu não quero
mais nada com ele. Eu não tenho mais vontade. Tomei um abuso triste dele e não
sei fingir. Eu sei que a mulher que casa tem que cumprir a obrigação do
matrimônio, mas eu não obedeço mais, e agora só Deus me obriga! Antônio tá
ficando velho, não tem mais aquela dureza que o senhor sabe o que é, e, de uns
tempos pra cá, eu esfriei de vez, e ja comecei a sentir nele catinga de macaco!
Aí, lá vem ele sem roupa, olha pra mim e fica dizendo: “Chegue, minha filha!
Chegue minha filha, vamos fazer mais menino!” Meu compadre, quando eu vejo
aquela arrumação, aquele homem velho, com aquela coisa feia sem dureza nenhuma,
tenho vontade de sair correndo! Eu tenho é ódio! E ele passa uma hora dizendo
“chegue, minha filha, chegue, minha filha!” Eu garanto que se fosse com o
senhor, o senhor também não ia. Fale sério, meu compadre, se fosse com o
senhor, o senhor ia?
Seu Delmiro, indignado,
respondeu:
- Claro que não! O diabo é quem ia! Tá bom,
comadre Zefinha, tá bom, a conversa terminou aqui!
Antônio Gato adoeceu de
tristeza, e terminou seus dias levando mais chifre do que pano de toureiro.
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