A MÁQUINA DE FAZER DINHEIRO
(POR VIOLANTE PIMENTEL) Bajoso era um médio
comerciante, muito correto, e incapaz de um ato desonesto.
Passou a vida inteira
atrás do balcão de sua mercearia, trabalhando para o sustento da família. Não
progredia, nem regredia financeiramente. Era do tipo de comerciante que nunca
ficou rico, nem mais pobre do que sempre foi. De pouca instrução, Bajoso era
respeitador, religioso, e se destacava pela sua integridade moral.
Nessa época, década de
50, Nova-Cruz era um atraso geral. Não tinha água encanada, energia elétrica,
nem agência bancária. A passagem do trem
de Recife para Natal, ou de Natal para Recife, era uma festa. A estação
ferroviária ficava cheia de gente, esperando o trem chegar. Era nesse trem que
chegavam as revistas e jornais que eram vendidos na cidade.
Numa sexta-feira pela
manhã, estava o velho Bajoso no balcão de sua mercearia, sozinho, quando entrou
um viajante desconhecido, alto, elegante, educado e bem vestido. O homem, com
uma conversa muito boa, chegou trazendo nas mãos uma caixa, contendo uma
pequena máquina, que, segundo ele, fabricava dinheiro. A máquina estava à
venda.
Antes que o velho
comerciante dissesse qualquer coisa, o viajante colocou a “máquina de fazer
dinheiro“ sobre o balcão, para fazer a demonstração do seu "modus
operandi". Girou uma pequena manivela existente no precioso objeto, e de
repente, como por milagre, por um dispositivo semelhante a esses que há nos
atuais caixas eletrônicos, começou a sair dinheiro da máquina. Eram notas de
cinco mil réis, dez mil réis e até de vinte mil réis. Isso deixou o velho
comerciante abismado... Tratava-se, realmente, de um objeto precioso...
O viajante, com a sua
lábia de vendedor ambulante, e sozinho com Bajoso, procurou convencê-lo a
comprar a tal máquina. Seria uma aquisição valiosa...O preço cobrado era
rasoavelmente barato, diante do custo-benefício que traria a qualquer
comprador.
O comerciante Bajoso,
homem de boa fé, não pensou duas vezes, e comprou a máquina de fazer dinheiro.
O preço foi exatamente o apurado da semana, que ele guardava numa gaveta. Feito
o negócio, o viajante foi direto para a estação ferroviária, tomou o trem
das onze horas, que ia para o Recife, e
até hoje…
O velho comerciante
fechou as portas da mercearia, para evitar os curiosos, e, com os olhos
brilhando de emoção e ansiedade, colocou a máquina para funcionar. Queria
recuperar o dinheiro que havia pago pela máquina. Seguiu à risca as instruções
do viajante, mas só conseguiu que saíssem da máquina duas notas de cinco mil
réis, e nada mais... Tentou diversas vezes, mas nada de sair dinheiro... Continuou
tentando, e dinheiro que é bom, nada... Bajoso foi ficando desapontado, até que
"caiu a ficha"...Entendeu que havia sido vítima de um vigarista.
Indignado, o antigo comerciante se dirigiu, imediatamente, à Delegacia de
Polícia da cidade, para prestar queixa contra o trapaceiro.
Chegando à Delegacia,
Bajoso, visivelmente nervoso, contou ao Delegado o golpe de que fora vítima:
Comprara uma máquina de fazer dinheiro, e a máquina só funcionou enquanto o
vendedor ainda se encontrava na sua mercearia. Entregara ao viajante trapaceiro
todo o dinheiro que tinha na gaveta, que era o apurado da semana toda...
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Quase chorando,
implorou ao Delegado que diligenciasse, para localizar e prender o larápio. O
Delegado ouviu a narrativa do velho e respeitado comerciante, perplexo diante
da sua ignorância e ingenuidade. Penalizado, em voz baixa, assim lhe falou:
- Seu Bajoso, pelo amor de Deus, esqueça essa
história, pois quem era para ser preso era o senhor!!! O senhor, com essa
idade, mais de setenta anos, ainda não sabe que é crime fabricar dinheiro em
casa?!!! Só quem pode fabricar dinheiro é a Casa da Moeda, com ordem do governo
federal!!! O senhor foi induzido por um vigarista a comprar uma máquina de fazer
dinheiro falso!!!
Volte para sua casa e
não conte essa história a mais ninguém!!!
O velho voltou para
casa triste, acabrunhado, e nunca mais teve saúde.
Só cai em golpe quem se acha esperto. Gostei do texto, Violante. Parabéns!
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