O pai sempre foi especial,
educado demais, jamais colocou os palavrões que sabia da boca para fora.
Generoso, inverteu a lógica do mercado: o prestador de serviços não precisava lhe
fazer mesuras, cumprir com suas obrigações. Sempre foi grato a todos, homem
bom. A tudo e a todos relevava. Quase tolo, de tão bom. Por conta disso, o pai
não perdeu o pescoço por pouco.
Desde sempre, a família
de Giggio viveu e se manteve da nobre arte de cortar cabelos, fazer barbas. (As
mulheres da família partiram para o caminho da depilação). O salão mudava de
lugar... O pai ia atrás. O pai de Giggio morreu. Os tios também não comeram
castanhas naquele Natal do fatídico ano de 1973. Giggio partiu para o negócio próprio,
sem pai, sem tios. Alugou um espaço, abriu salão. E o pai foi atrás. O problema
é que Giggio tomava todas – e mais algumas. Mas o pai ia atrás, fiel aos
costumes, às tradições.
Um dia – que dia! – o
pai foi cortar os poucos cabelos que lhe restavam e aparar a barba rala. Giggio
pegou a navalha. Ela fremia mais que arma de Lampião da Vila Invernada. E Giggio falou:
-- Vou tomar uma, para
equilibrar a marcha lenta, volto logo, fique aí.
O pai deixou o dinheiro
da barba e do cabelo, mais caixinha, sob a navalha. Nunca mais voltou no
Giggio. Salvou o pescoço. Não perdi o pai.
Muito bom!
ResponderExcluirObrigado, amigo. Grande abraço.
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