A DECEPÇÃO
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A médica separou-se do
marido, já com vinte anos de casada. Ainda em forma, apesar de já beirar os cinquenta anos,
sentia necessidade de amar e ser amada.
Mas a coisa não estava fácil.
Natal, a cidade do sol,
com suas praias deslumbrantes e seus bares e restaurantes para todos os gostos
e todos os níveis sociais, apresentava um grande leque de opções, para quem
achava que seria fácil recomeçar uma
nova vida de amores e dores. Ledo engano.
A maré não estava para peixe... Havia muito mais mulheres do que homens,
e a concorrência era desleal. As
jovens levavam grandes vantagens
sobre o “coroal”. Para a maioria dos homens, “carne dura” é outra coisa....
Beleza interior, isso é coisa para decorador de ambientes...
A depressão foi se
apoderando da Doutora Elza, ansiosa para refazer sua vida conjugal. Mas só
conseguia arranjar namorados sem uma prata no bolso. E o pior, com escolaridade
zero. Do tipo que diz “menas gente”, “o povo foram” “o pessoal disseram”...
Desistiu de se guardar
“para quando o carnaval chegasse...” O tempo estava passando. Começou a ter
sonhos eróticos e foi à luta. Trocou de
carro. Passou a frequentar a via costeira, um dos locais mais propícios para
todo tipo de crime, inclusive estupro.
Sonhava até em ser estuprada. Essa ideia a excitava. Estava ávida por qualquer tipo de
“sacanagem”.
Resolveu se expor na
via costeira. Carro novo, som ligado, as portas do carro abertas, e lá estava a
coroa, uma médica estribada, dona do seu nariz, divorciada e dois filhos já
casados. A vida era bela. Daquele dia
não passaria...Ela estava sedenta de
amor. Por quem, ela não sabia. Até o carinho de um macaco lhe serviria naqueles
dias de carência afetiva... Passou a semana “dando plantão” na via costeira, no
carrão novo, louca para ser estuprada, e nada...
Ficava revoltada quando
ouvia alguém dizer que em Natal estavam ocorrendo muitos estupros...
Vestindo “short” e
blusa tomara-que-caia bastante
provocante, em plena via costeira, com
o som do carro ligado no mais alto volume, a médica ouvia músicas
românticas e sensuais. Cigarro na mão, fazia pose de quem estava atrás de
homem, mesmo...
Decepção total.
Passaram por ela muitos garotões, também homens já feitos, desacompanhados, mas
nenhum lhe dirigiu, ao menos, um olhar de simpatia...
A revolta foi tão
grande, que ela resolveu fazer terapia, para aprender a conviver com a solidão.
Hoje, é ministra de
Igreja...
Violante, adorei!!! Li até o final. Mas eu daria um final melhor para esta doutora incompetente. Beijos amiga, amei sua prosa.
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