quarta-feira, 1 de outubro de 2014

COISAS DA VIDA

A DECEPÇÃO


Violante Pimentel

Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

A médica separou-se do marido, já com vinte anos de casada. Ainda em forma,  apesar de já beirar os cinquenta anos, sentia  necessidade de amar e ser amada. Mas a coisa não estava fácil.

Natal, a cidade do sol, com suas praias deslumbrantes e seus bares e restaurantes para todos os gostos e todos os níveis sociais, apresentava um grande leque de opções, para quem achava que  seria fácil recomeçar uma nova vida de amores e dores. Ledo engano.  A maré não estava para peixe... Havia muito mais mulheres do que homens, e a concorrência era desleal. As  jovens  levavam grandes vantagens sobre o “coroal”. Para a maioria dos homens, “carne dura” é outra coisa.... Beleza interior, isso é coisa para decorador de ambientes...

A depressão foi se apoderando da Doutora Elza, ansiosa para refazer sua vida conjugal. Mas só conseguia arranjar namorados sem uma prata no bolso. E o pior, com escolaridade zero. Do tipo que diz “menas gente”, “o povo foram” “o pessoal disseram”...

Desistiu de se guardar “para quando o carnaval chegasse...” O tempo estava passando. Começou a ter sonhos eróticos e foi à luta.  Trocou de carro. Passou a frequentar a via costeira, um dos locais mais propícios para todo tipo de crime, inclusive estupro.  Sonhava até em ser estuprada. Essa ideia a excitava.  Estava ávida por qualquer tipo de “sacanagem”.

Resolveu se expor na via costeira. Carro novo, som ligado, as portas do carro abertas, e lá estava a coroa, uma médica estribada, dona do seu nariz, divorciada e dois filhos já casados.   A vida era bela. Daquele dia não passaria...Ela estava sedenta  de amor. Por quem, ela não sabia. Até o carinho de um macaco lhe serviria naqueles dias de carência afetiva... Passou a semana “dando plantão” na via costeira, no carrão novo, louca para ser estuprada, e nada...

Ficava revoltada quando ouvia alguém dizer que em Natal estavam ocorrendo muitos estupros...

Vestindo  “short” e  blusa tomara-que-caia bastante  provocante, em plena via costeira, com  o som do carro ligado no mais alto volume, a médica ouvia músicas românticas e sensuais. Cigarro na mão, fazia pose de quem estava atrás de homem, mesmo...

Decepção total. Passaram por ela muitos garotões, também homens já feitos, desacompanhados, mas nenhum lhe dirigiu, ao menos, um olhar de simpatia...
A revolta foi tão grande, que ela resolveu fazer terapia, para aprender a conviver com a solidão.

Hoje, é ministra de Igreja... 







Um comentário:

  1. Violante, adorei!!! Li até o final. Mas eu daria um final melhor para esta doutora incompetente. Beijos amiga, amei sua prosa.

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