“SAPATEIRO, NÃO VÁS ALÉM DE
TUAS SANDÁLIAS”
(POR VIOLANTE PIMENTEL) No serviço público, há
sempre um ocupante de cargo em comissão, com nível superior, que nunca
conseguiu aprovação em concurso público. Esse tipo quer saber mais do que os
servidores concursados, e não perde oportunidade de querer interferir no
trabalho de todos. Normalmente, é alguém apadrinhado, bajulador, e que está
sempre à frente de alguma coordenadoria.
No serviço público
estadual de um Estado do Nordeste, havia um servidor comissionado, que nunca
fora aprovado no concurso para o cargo de Procurador. Talvez por isso,
demonstrasse aversão gratuita aos Procuradores. Sua prepotência fazia com que
ele quisesse opinar até em assuntos fora de suas atribuições.
Certa vez, uma
Procuradora baixou um processo administrativo em diligência, a ser cumprida
numa secretaria estadual. O processo foi parar na coordenadoria, onde esse
servidor comissionado era o chefe. Ele, simplesmente, devolveu o processo, com
um despacho de sua lavra, onde dizia “entender” ser desnecessária aquela
diligência.
Indignada com o
inoportuno e incabível despacho, a Procuradora repetiu o pedido de diligência, evocando,
ironicamente, uma história que tem atravessado séculos, e que se aplicava ao
caso, como uma luva. É uma passagem referente à vida de Apeles, célebre pintor
da Grécia antiga (século IV A.C), que se destacava pelo grande senso de humor e
presença de espírito. Segundo a História, partiu dele o célebre provérbio:
“Sapateiro, não vás além de tuas sandálias!"
E a Procuradora inseriu
no seu novo despacho:
“Após terminar a
pintura de um belo quadro, Apeles, desejoso de conhecer a opinião do homem da
rua sobre a sua obra, procurou um jeito de o expor em praça pública, procurando
se ocultar atrás de uma árvore, para ouvir as opiniões.
Um sapateiro, que
passava pelo local, fez, em voz alta, uma crítica ao salto da sandália de uma
das personagens. Apeles saiu do esconderijo, agradeceu ao sapateiro a crítica
que considerou construtiva, e reparou o seu erro, no próprio local onde o
quadro estava exposto.
|
No dia seguinte, Apeles
repetiu o gesto, expondo novamente o quadro à opinião popular. O mesmo
sapateiro do dia anterior, passando novamente pelo local, e lisonjeado pelo
sucesso do seu primeiro comentário, fez um segundo comentário, agora sobre a
perna da personagem.
Dessa vez, Apeles ficou
profundamente irritado, e gritou em alto e bom som:
“SAPATEIRO, NÃO VÁS ALÉM DE TUAS SANDÁLIAS”!
Com essa narrativa da
Procuradora, o servidor comissionado tomou “Semancol” e nunca mais tentou
ensinar o “Padre-Nosso ao Vigário”.
O pedido de diligência
foi atendido.
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