sexta-feira, 31 de outubro de 2014

BRUNO NEGROMONTE

AS RAINHAS DO RÁDIO: PORTUGAL TAMBÉM TEVE A SUA REPRESENTANTE
Hoje, antes de dar início a esta coluna, venho a público pedi perdão pelo grande equívoco realizado ao longo da semana passada quando trouxe a figura da Dalva de Oliveira como última Rainha dentre as dez que fizeram história no rádio brasileiro. Na verdade, ao contabilizar as semana,s vi que eram nove, e portanto faltava ainda uma a ser abordada. Lembrei-me que, dentre as brasileiras, Dalva de fato era o último nome apresentado, no entanto, ainda faltava o nome da portuguesa Ermelinda Balula (que preferiu adotar como nome artístico o Heterônimo Vera Lúcia). Nascida distante das paragens brasileiras, Ermelinda nasceu na verdade em Portugal, mais precisamente em Viceu, cidade localizada ao norte do país e que conta hoje com um pouco mais de 50 mil habitantes. Sua carreira artística teve início no Brasil em 1951, quando lançou através do pequeno selo Elite Especial o seu primeiro registro fonográfico interpretando um samba de autoria de João de Barro e Alberto Ribeiro intitulado Copacabana e o baião Veio Amô, do compositor Humberto Teixeira. Ainda no mesmo ano chegou a gravar um dos grandes sucessos de sua carreira, a marcha Rita Sapeca, composta pela dupla Klécius Caldas e Armando Cavalcanti (no ano seguinte voltaria a gravar a dupla de compositores com o samba-canção Verdadeira razão). Entre marchas, sambas, baiões e outros gêneros Vera Lúcia gravou canções como o samba Não vou chorar (Humberto Teixeira e Felícia Godoy), a marcha Pagode chinês (Ari Monteiro e Irani de Oliveira), o Baião da saudade (Fernando Jacques), os sambas Vou-me embora (Humberto Teixeira e Felícia Godoy) e Eu não perdoo (Paulo Menezes e Nilton Legey); além dos sambas-canção Molambo (Jaime Florence e Augusto Mesquita), Filha diferente (Raul Sampaio e Rubens Silva), Intriga (Altamiro Carrilho e Armando Nunes), Eu sei que você não presta (Chocolate e Mário Lago), o clássico fado canção "Nem às paredes confesso" (Artur Ribeiro, Max e F. Trindade), É tarde demais (Hianto de Almeida) entre outras canções contando apenas a década de 1950, quando a artista chegou a atuar no pequeno selo Elite Special, além das gravadoras Odeon, Sinter e Continental. Aliás, foi esta última responsável pelo lançamento do samba Valerá a pena (Dorival CaymmiCarlos Guinle e Hugo Lima), canção que acabaria tornando-se uma das pérolas da fase urbana do compositor baiano. Foi responsável também pela gravação de clássicos como os samba-canções Castigo (Dolores Duran), Por causa de você (Tom Jobim Dolores Durane composições de Tom Jobim como o samba Este teu olhar e o samba-canção Porque tinha de ser (este em parceria com Vinicius de Moraes.) 
Eleita para ser Rainha do Rádio do ano de 1955, Vera Lúcia teve a sua vitória como Rainha do rádio bastante influenciada por decisão de gaúcho Manoel Barcelos, presidente da ABR e apresentador de um programa homônimo ao seu nome apresentado na Rádio Nacional ao longo de diversas quintas-feiras. Manoel queria a todo custo homenagear a cantora Carmen Miranda, que estava no Brasil para tratar de alguns problemas de saúde e era portuguesa de nascimento assim como Vera. O radialista através de sua influência junto aos meios de comunicação articulou de modo tão competente que a sua candidata acabou sendo eleita. O que não esperava-se era que sua votação fosse tão inexpressiva se comparada com os votos ganhos na eleição do ano anterior. Um ano antes Vera Lúcia havia perdido a eleição para Ângela Maria e tornado-se princesa com a expressiva marca dos mais de 900 mil votos (marca nunca antes atingida nem mesmo por nenhuma das Rainhas anteriores). No entanto ela não contava com uma votação mais expressiva ainda dada a Sapoti como chegamos a ver ao longo de uma das matérias referentes a Rainha do rádio. Como a nova Rainha estava sucedendo a Ângela Maria, era esta quem, por tradição, deveria colocar a coroa sobre a cabeça da eleita. No entanto não foi o que de fato aconteceu. A coroa foi entregue das mãos da Pequena Notável, a figura mais ilustre da festa e que encontrava-se em visita ao Brasil para tratamento de saúdeEm sua coroação, no dia 15 de fevereiro de 1955, ocorreu um espetáculo no mínimo inusitado: A sua entrada no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, foi extremamente pomposa. Conduzida em um andor por quatro atletas que vestiam a camiseta do Clube de Regatas do Flamengo a cantora chegou de modo triunfal. Ângela Maria não gostou, torceu o nariz e nem ficou para o baile. A revista “O Cruzeiro” publicou uma reportagem narrando estes acontecimentos em sua edição do dia 5 de março de 1955. Sua fama não restringiu-se apenas ao Brasil. Sua voz alcançou a América do Sul e a Europa através de países como Portugal, Argentina e Uruguai, onde a cantora chegou a cantar. 

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