sexta-feira, 31 de outubro de 2014

TIA DOLORES (II)




-- E aí, tia: o cansaço passou?
-- Graças a Deus, desse mal me livrei.
-- Que bom, que bom.
-- Calma. Filho: Deus me mandou a exaustão. Esse Cara, como diria seu primo, é foda.

Leia também TIA DOLORES (I):

DIA DAS BRUXAS

Resultado de imagem para imagens dia das bruxas

-- Cadê a vassoura?
-- A sogra voou.


1º DE NOVEMBRO



 No dia de todos os santos, queria um pra chamar de meu.


A NAVALHA DO GIGGIO



O pai sempre foi especial, educado demais, jamais colocou os palavrões que sabia da boca para fora. Generoso, inverteu a lógica do mercado: o prestador de serviços não precisava lhe fazer mesuras, cumprir com suas obrigações. Sempre foi grato a todos, homem bom. A tudo e a todos relevava. Quase tolo, de tão bom. Por conta disso, o pai não perdeu o pescoço por pouco.  

Desde sempre, a família de Giggio viveu e se manteve da nobre arte de cortar cabelos, fazer barbas. (As mulheres da família partiram para o caminho da depilação). O salão mudava de lugar... O pai ia atrás. O pai de Giggio morreu. Os tios também não comeram castanhas naquele Natal do fatídico ano de 1973. Giggio partiu para o negócio próprio, sem pai, sem tios. Alugou um espaço, abriu salão. E o pai foi atrás. O problema é que Giggio tomava todas – e mais algumas. Mas o pai ia atrás, fiel aos costumes, às tradições.

Um dia – que dia! – o pai foi cortar os poucos cabelos que lhe restavam e aparar a barba rala. Giggio pegou a navalha. Ela fremia mais que arma de Lampião da Vila Invernada. E Giggio falou:

-- Vou tomar uma, para equilibrar a marcha lenta, volto logo, fique aí.

O pai deixou o dinheiro da barba e do cabelo, mais caixinha, sob a navalha. Nunca mais voltou no Giggio. Salvou o pescoço. Não perdi o pai.




BRUNO NEGROMONTE

AS RAINHAS DO RÁDIO: PORTUGAL TAMBÉM TEVE A SUA REPRESENTANTE
Hoje, antes de dar início a esta coluna, venho a público pedi perdão pelo grande equívoco realizado ao longo da semana passada quando trouxe a figura da Dalva de Oliveira como última Rainha dentre as dez que fizeram história no rádio brasileiro. Na verdade, ao contabilizar as semana,s vi que eram nove, e portanto faltava ainda uma a ser abordada. Lembrei-me que, dentre as brasileiras, Dalva de fato era o último nome apresentado, no entanto, ainda faltava o nome da portuguesa Ermelinda Balula (que preferiu adotar como nome artístico o Heterônimo Vera Lúcia). Nascida distante das paragens brasileiras, Ermelinda nasceu na verdade em Portugal, mais precisamente em Viceu, cidade localizada ao norte do país e que conta hoje com um pouco mais de 50 mil habitantes. Sua carreira artística teve início no Brasil em 1951, quando lançou através do pequeno selo Elite Especial o seu primeiro registro fonográfico interpretando um samba de autoria de João de Barro e Alberto Ribeiro intitulado Copacabana e o baião Veio Amô, do compositor Humberto Teixeira. Ainda no mesmo ano chegou a gravar um dos grandes sucessos de sua carreira, a marcha Rita Sapeca, composta pela dupla Klécius Caldas e Armando Cavalcanti (no ano seguinte voltaria a gravar a dupla de compositores com o samba-canção Verdadeira razão). Entre marchas, sambas, baiões e outros gêneros Vera Lúcia gravou canções como o samba Não vou chorar (Humberto Teixeira e Felícia Godoy), a marcha Pagode chinês (Ari Monteiro e Irani de Oliveira), o Baião da saudade (Fernando Jacques), os sambas Vou-me embora (Humberto Teixeira e Felícia Godoy) e Eu não perdoo (Paulo Menezes e Nilton Legey); além dos sambas-canção Molambo (Jaime Florence e Augusto Mesquita), Filha diferente (Raul Sampaio e Rubens Silva), Intriga (Altamiro Carrilho e Armando Nunes), Eu sei que você não presta (Chocolate e Mário Lago), o clássico fado canção "Nem às paredes confesso" (Artur Ribeiro, Max e F. Trindade), É tarde demais (Hianto de Almeida) entre outras canções contando apenas a década de 1950, quando a artista chegou a atuar no pequeno selo Elite Special, além das gravadoras Odeon, Sinter e Continental. Aliás, foi esta última responsável pelo lançamento do samba Valerá a pena (Dorival CaymmiCarlos Guinle e Hugo Lima), canção que acabaria tornando-se uma das pérolas da fase urbana do compositor baiano. Foi responsável também pela gravação de clássicos como os samba-canções Castigo (Dolores Duran), Por causa de você (Tom Jobim Dolores Durane composições de Tom Jobim como o samba Este teu olhar e o samba-canção Porque tinha de ser (este em parceria com Vinicius de Moraes.) 
Eleita para ser Rainha do Rádio do ano de 1955, Vera Lúcia teve a sua vitória como Rainha do rádio bastante influenciada por decisão de gaúcho Manoel Barcelos, presidente da ABR e apresentador de um programa homônimo ao seu nome apresentado na Rádio Nacional ao longo de diversas quintas-feiras. Manoel queria a todo custo homenagear a cantora Carmen Miranda, que estava no Brasil para tratar de alguns problemas de saúde e era portuguesa de nascimento assim como Vera. O radialista através de sua influência junto aos meios de comunicação articulou de modo tão competente que a sua candidata acabou sendo eleita. O que não esperava-se era que sua votação fosse tão inexpressiva se comparada com os votos ganhos na eleição do ano anterior. Um ano antes Vera Lúcia havia perdido a eleição para Ângela Maria e tornado-se princesa com a expressiva marca dos mais de 900 mil votos (marca nunca antes atingida nem mesmo por nenhuma das Rainhas anteriores). No entanto ela não contava com uma votação mais expressiva ainda dada a Sapoti como chegamos a ver ao longo de uma das matérias referentes a Rainha do rádio. Como a nova Rainha estava sucedendo a Ângela Maria, era esta quem, por tradição, deveria colocar a coroa sobre a cabeça da eleita. No entanto não foi o que de fato aconteceu. A coroa foi entregue das mãos da Pequena Notável, a figura mais ilustre da festa e que encontrava-se em visita ao Brasil para tratamento de saúdeEm sua coroação, no dia 15 de fevereiro de 1955, ocorreu um espetáculo no mínimo inusitado: A sua entrada no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro, foi extremamente pomposa. Conduzida em um andor por quatro atletas que vestiam a camiseta do Clube de Regatas do Flamengo a cantora chegou de modo triunfal. Ângela Maria não gostou, torceu o nariz e nem ficou para o baile. A revista “O Cruzeiro” publicou uma reportagem narrando estes acontecimentos em sua edição do dia 5 de março de 1955. Sua fama não restringiu-se apenas ao Brasil. Sua voz alcançou a América do Sul e a Europa através de países como Portugal, Argentina e Uruguai, onde a cantora chegou a cantar. 

DALINHA

QUEBRANDO A CORRENTE

Dalinha Catunda
www.cantinhodadalinha.blogspot.com
www.cordeldesaia.blogspot.com


Você me manda correntes
E ameaça se eu quebrar...
Ah! Antes que eu me esqueça,
Repito: Vá se lascar!
O meu Deus é diferente,
Gosta de me ver contente,
Me absolve seu pecar.

***

Jamais venha me falar
Que a fulaninha morreu,
Porque recebeu corrente
Não botou fé no que leu,
Pois eu deleto na hora!
E fique sabendo agora,

E não encha o saco meu!

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

COISAS DA VIDA

A CANA 

(Por Violante Pimentel) Pedro Elias era motorista de um órgão público estadual.  Gostava de beber, e uma vez por outra tomava umas carraspanas, chegando ao serviço embriagado. Já havia sido repreendido e até suspenso do trabalho. Entrou de férias e voltou outro homem. Dizia, a toda hora, que agora era evangélico e tinha deixado de beber. Afinal, tinha esposa e filhos para sustentar. A partir de então, esforçou-se para andar na linha. Realmente, não deu mais sinal de que continuasse bebendo.  Depois de alguns meses, passou a inspirar confiança novamente, como motorista de carro oficial. 

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte
Num certo dia, o chefe imediato de Pedro Elias o escalou para levar o Secretário do órgão onde era lotado a João Pessoa, a serviço.  O Secretário não gostou quando soube quem seria o motorista que viajaria com ele, pois conhecia sua fama de pinguço. O chefe da oficina, entretanto, garantiu que ele havia deixado de beber, e agora era outro homem.

Passando por Mamanguape (PB), por volta de meio dia, o Secretário ordenou ao motorista que parasse em um restaurante, a fim de almoçarem. Gentilmente, facultou-lhe sentar-se à mesa com ele. Por timidez, o homem preferiu ficar mais afastado, em outra mesa, onde se sentiria mais à vontade. O Secretário pediu ao garçom o almoço e um refrigerante.

O motorista chamou o garçom e cochichou-lhe: “Rapaz, pelo amor de Deus, eu estou aqui doido pra tomar uma branquinha. Quero que você me sirva uma dose grande de cachaça, disfarçada numa xícara. Meu chefe, que está ali naquela mesa, não pode ver”.

O garçom anotou todos os pedidos, inclusive o do motorista, e do meio do salão os transmitiu ao colega que atendia no balcão.

Para surpresa do Secretário, soou-lhe aos ouvidos a voz estridente do garçom, lendo os pedidos anotados:

- Pra mesa 5,  uma coca cola e um filé com fritas!  Pra mesa 8, aquela ali,  o homem quer uma cana “disfalçada”, numa xícara!

O Secretário virou-se para a mesa onde estava Pedro Elias, encarou-o, e balançou a cabeça em sinal de desaprovação. O motorista, sentindo-se perdido, levantou-se nervoso e saiu protestando:
-- Eu mesmo não pedi isso não! Eu não quero é nada!

E saiu do restaurante, indo aguardar o Secretário no carro.  A viagem até João Pessoa prosseguiu em completo silêncio. O motorista, com medo de uma nova punição, ainda tentou explicar ao Secretário, sem êxito, que o garçom havia se enganado.

O Secretário, visivelmente irritado, permaneceu calado, demonstrando não acreditar em nenhuma daquelas palavras.


Quando a cana fala mais alto...



terça-feira, 28 de outubro de 2014

IMAGENS: MANUEL BANDEIRA

Por FRAGA


Por NOVAES


Por Fraga



Por CÁSSIO LOREDANO


Por LASAR SEGALL


NÚBIA NONATO

BOM DIA!

Núbia Nonato
NÚBIA NONATO
Hoje o meu bom dia é diferente
misturado aos sonhos embolados
que sou incapaz de juntar.


Traço um bom dia sempre sincero
sem dele nada esperar.
Lanço-o inadvertidamente, tipo
casual.


Espio de rabo de olho, talvez na
esperança de que alguém o
leia nas entrelinhas...



CLÓVIS CAMPÊLO

O POETA E O VIOLÃO


Um dos poetas mais fotografados da literatura brasileira talvez tenha sido o pernambucano Manuel Bandeira. Entre as dezenas de imagens suas, porém, duas sempre me chamaram a atenção: são fotografias onde o bardo da Rua da União aparece tocando um violão.

De início, imaginei que Bandeira apenas se aproveitara do violão para fazer pose e firula, encarnando o poeta tocador que eu imaginava que nunca tivesse sido. No entanto, em um texto escrito por seu conterrâneo João Condé, constante na 20ª edição do livro “Estrela da vida inteira”, lançado em 1993 pela Editora Nova Fronteira, está explícito: “Já tocou violão e sabe executar ao piano dois prelúdios de Chopin, um número de carnaval de Schumann e uma peçazinha de Mac-Dowell”. Ou seja, o poeta não era tão inocente assim!

Aliás, nesse pequeno texto de exaltação, Condé nos revela outros dados interessantes do poeta Bandeira: “Não gosta de abiu nem de caqui, nem de melancia... Gosta de jiló, cinema falado, rádio e de poetas de segunda ordem... Guarda pelo Recife a sua ternura de infância... Gosta de: tirar retratos, ver figuras, ler suplementos literários, bestar, etc”. Para mim, assim, também está explicado: o poeta exercitava uma cumplicidade criativa com os seus fotógrafos!


Nas fotografias citadas, cujos autores, infelizmente, não consegui identificar, percebemos que o poeta tinha dedos longos de violonista. Os dedos da mão esquerda parecem privilegiar as cordas mais agudas do instrumento, enquanto os dedos da mão direita sugerem um dedilhado competente e adequado.

Em um texto chamado “Literatura de violão”, escrito pelo próprio Bandeira, o poeta nos revela o quanto entendia do assunto: “Desgraçadamente entre nós o violão foi até aqui cultivado de uma maneira desleixada. É verdade que a sua técnica é ingratíssima e o tempo perdido em adquirir nele um mecanismo sofrível será bem mais compensador aplicado a outro instrumento de repertório mais rico e mais nobre. O desleixo em todo caso era excessivo. Desconhecia-se por completo o dedilhado da mão direita. Basta dizer que se reservava o polegar para os bordões, o índice para o sol, o médio para o si e o anular para a prima. E esse dedilhado de arpejo era pau para toda obra. Havia dedilhados mais extraordinários. Lembro-me de ter ouvido no sertão do Ceará a um cego que só se serviu do índex. Quando tocava, dava a impressão de estar escrevendo nas cordas do violão. Só com esse dedo Zé Cego pintava o bode... O que não faria ele se conhecesse a verdadeira técnica do instrumento?” 

CLÓVIS CAMPÊLO

O violão para Bandeira era uma coisa séria, tão séria quanto a sua produção poética. Talvez por isso, por se achar um violonista menor, é que tenha dele desistido. Para nosso gáudio, perdemos um violonista mediano, mas ganhamos um poeta de primeira grandeza, estrela de uma vida inteira.

Recife, outubro 2014



segunda-feira, 27 de outubro de 2014

RAPIDÍSSIMAS (XXIX)


DIÓGENES

DIÓGENES
É claro que há gente séria (até na política). O duro é encontrá-las.

PODERES
Sem maioria no Legislativo nenhum governante governa. Mas de que adianta ter ampla maioria e fazer um governo medíocre?

AUTOESTIMA
-- Zuleide, Zuleide: esse seu olhar de desprezo não me intimida, já fui bom nisso, você sabe. “Ele” pode estar pequeno e mole, mas é meu.

DEMOCRACIA
De noite, todos os gatos são pardos. Na praia, exibimos nossas protuberâncias. Sem pudor.

REDUNDÂNCIA
O cara batia no peito e bradava em alto e bom som: “Sou um petista doente!”




sábado, 25 de outubro de 2014

A ARTE DE SIMONE GRECCO

Simone Grecco
SIMONE GRECCO


Formada pela Faculdade de Belas Artes de São Paulo (1972)
 e com diversos cursos de especialização nos Estados Unidos, 
Simone Grecco é uma artista plástica, cuja obra a todos encanta. 
No Brasil e no exterior.
Nesse dia em que o Blog do Lando faz um aninho de vida,
 seguem abaixo alguns de seus trabalhos. 
Trata-se, evidentemente, de aperitivo.
A ideia é reproduzir, semanalmente, no blog, 
algumas de suas criações.

Para entrar em contato com Simone, 
mestre em esculturas em arame, acesse














IMAGENS: CLÓVIS CAMPÊLO

O BAIRRO DAS GRAÇAS
Recife, julho 2014

Fotografias de Clóvis Campêlo











NÚBIA NONATO

AROMAS


Acorda com o aroma
dos temperos.
Limpa o peixe
enquanto o
gato espia de
longe.

O coentro lavado,
a espera na pia.
Na panela de barro
o cheiro do alho
se espalha pela
casa.

Hoje o mar vai
trazer de volta
seu homem.

Se banha em
água de flores
para perfumada ficar.
Escova bem os cabelos
até vê-los brilhar.
Blusa branca de renda
saia de chita rodada.
Espia o peixe mais
uma vez enquanto
respira fundo com o
desejo a subir por
entre as pernas.

Núbia Nonato
NÚBIA NONATO


Ele chega trazendo
chuva.
A toma com a fome
de um náufrago
com os olhos no
agora.




sexta-feira, 24 de outubro de 2014

ADOLFO & GUIOMAR

ONDE ESTÃO OS GORDOS? NA COZINHA DO QUIOSQUE, ORA


Ele pediu uca, cerveja estupidamente gelada, porção de torresmo e dois pãezinhos; ela, o de sempre: cascão com três bolas de sabores distintos e coberturas variadas. Antes que o pedido chegasse à mesa, Guiomar disparou:

-- Você está gordo que só, não pára de beber e comer. Vai explodir. Seu fim será triste.

Adolfo devolveu de “prima”:

-- Você não terá final menos glorioso, acalme-se.

Mesa posta, entre goles, mastigadas e lambidas, Adolfo e Guiomar observavam com especial atenção o vai-vem dos banhistas. Nada escapava aos olhos míopes do casal, em especial as barrigas medonhas, peitos caídos, varizes e celulites que desfilavam pela orla.

Antes de dar fim ao cascão gigantesco, Guiomar não deixou por menos:

-- Já notou como o povo está gordo, imenso mesmo? Que absurdo!

Adolfo balançou a cabeça afirmativamente. Pensou em dizer a Guiomar: “Somos um deles.” Preferiu pedir nova rodada. Comprar briga para quê?  

AS RAINHAS DO RÁDIO: ENTRE FARPAS E CANÇÕES

Dalva de Oliveira tornou-se conhecida não apenas por seu talento como cantora, mas também por protagonizar uma das batalhas musicais mais populares da MPB
Por Bruno Negromonte - @brunonegromonte
A artista hoje em questão contribuiu de modo ímpar para a música popular brasileira. Paulista de Rio Claro (cidade localizada a 195 km da capital São Paulo), Vicentina de Paula Oliveira nasceu no dia 05 de maio de 1917 e tornou-se nacionalmente conhecida como Dalva de Oliveira. Aos dezessete anos Dalva conhece Herivelto Martins que formava ao lado de Francisco Sena o dueto Preto e Branco. Naquele primeiro encontro, de certo modo, estava sendo criado a gene para o Trio de Ouro, pois pouco tempo depois Dalva passaria a acompanhar a dupla formando ao lado deles um do grupos vocais de maior sucesso no Brasil na primeira metade do século XX. Do envolvimento profissional com Herivelto para o afetivo foi um passo. Dalva inicia um namoro com o compositor e, em 1937, oficializam a relação. A união daria ao casal dois filhos: os cantores Peri Oliveira Martins, o Pery Ribeiro, e Ubiratan Oliveira Mar. Chegaram a passar dez anos casados até que as constantes brigas e traições por parte de Herivelto deram fim ao casamento. Em 1949, quando a relação com o ex-marido encontrava-se totalmente abalada, Dalva resolve separar-se dele também profissionalmente desligando-se do Trio de Ouro. Um ano depois a artista retoma a carreira de maneira solo lançando canções como Olhos verdes (Vicente Paiva) e Ave Maria (Vicente Paiva e Jaime Redondo). Há quem afirme que Herivelto (a partir da colaboração do jornalista e compositor David Nasser, do "Diário da Noite") fosse responsável por matérias mentirosas que difamavam a moral de Dalva nesse período. Tais notícias fizeram com que o conselho tutelar mandasse os filhos do casal para um internato sob a alegação de que a mãe não possuía uma boa conduta moral para criá-los. Dalva lutou pela guarda dos filhos e sofreu muito por isso, protagonizando um dos capítulos mais emblemáticos da história da música brasileira de todos os tempos como foi, de certo modo apresentada, na minissérie Dalva e Herivelto - Uma Canção de Amor, produzida pela Rede Globo em 2010. 
Este episódio litigioso entre o casal rendeu canções memoráveis e enriqueceu de modo bastante valioso o acervo do cancioneiro popular brasileiro nesta briga musical. O início do embate se deu com a gravação por Francisco Alves da clássica "Caminhemos", seguida pela canção "Cabelos Brancos", registrada pelo grupo 4 Ases e Um Coringa. As respostas viria logo em seguida pelos compositores Lourival Faissal e Gustavo de Carvalho que fizeram para Dalva a canção "Mentira de amor", assim como também pelas mãos dos compositores J. Piedade e Oswaldo Martins, responsáveis pela composição do samba "Tudo Acabado". Talentosíssimo, Herivelto respondia à altura e expunha suas mágoas nos sambas e boleros que ele próprio compunha, enquanto Dalva tinha o apoio de alguns dos grandes nomes da música brasileira coomo Nelson Cavaquinho, Ataulfo Alves, entre outros que a partir da década de 1950 foram responsáveis por canções como "Falso Amigo", "Que Será", "Calúnia", "Errei Sim""Palhaço", entre outros. O sucesso de Dalva acabou fazendo com que assinasse contrato com a Rádio Nacional a sua popularidade junto ao público a habilitava como a candidata favorita da emissora para o concurso de Rainha do Rádio. Seu sucesso era tamanho que não foi difícil obter a vitória na disputa para Rainha do rádio do ano de 1951, tal feito acabou despertando a fúria do ex-marido que chegou a afirmar em um dos vespertinos da época que a ABR não destinava o dinheiro arrecadado com o concurso na construção do hospital que propagava, declaração esta que acabou gerando para o compositor um processo pelo crime de calúnia. A sua condição de Rainha do rádio daquele ano serviu para corroborar e atestar de modo definitivo o nome de Dalva como uma das grandes intérpretes da música popular a partir das cerca de 400 gravações deixadas ao longo de mais de três décadas de carreira. É com esta grande estrela de nossa música que hoje chego ao fim (após dez semanas) a abordagem de todas as "Rainhas" do rádio brasileiro. Foram nomes que marcaram toda uma geração e época. Um período bem diferente do que hoje vivemos e que, para muitos, é motivo de saudades. Aproveito a oportunidade para agradecer aos leitores saudosistas (assim como eu) ou não que ao longo dessas diversas semanas fizeram-me companhia nessa viagem a uma época que hoje habita os mais recônditos sonhos. Foi um prazer viajar com vocês e, de certo modo, poder "vivenciar" um período ao qual não tive a oportunidade de viver e conhecer através dessas prazerosas "sessões de regressão".

DALINHA

ENTRE COBRAS E POMBAS

Dalinha Catunda
www.cantinhodadalinha.blogspot.com
www.cordeldesaia.blogspot.com

A vida tem altos e baixos
Tem curvas e tem manobras
Existe a pomba da paz
Mas também existem cobras
Desde o tempo de Adão
Perdura a situação
Deus sentiu em suas obras.
***
Sempre existe um Deus de paz
Outro para combater
A vida é feita de lutas
Sempre ouvi alguém dizer
A batalha é permanente
Por isso não me apoquente
Não penso em esmorecer.
***
Vou fazendo poesia
Porque tenho munição
E na boca do fuzil
Ponho a flor da salvação
Faço rima, faça verso,
Navego neste universo
Que é composto de oração.


A vida tem altos e baixos
Tem curvas e tem manobras
Existe a pomba da paz
Mas também existem cobras
Desde o tempo de Adão
Perdura a situação
Deus sentiu em suas obras.

***

Sempre existe um Deus de paz
Outro para combater
A vida é feita de lutas
Sempre ouvi alguém dizer
A batalha é permanente
Por isso não me apoquente
Não penso em esmorecer.

***

Vou fazendo poesia
Porque tenho munição
E na boca do fuzil
Ponho a flor da salvação
Faço rima, faça verso,
Navego neste universo

Que é composto de oração.