terça-feira, 30 de dezembro de 2014

NÚBIA NONATO

Por Núbia Nonato


ESPERANÇAS

Diante desses dias corridos
que não nos dão tréguas,
diante das vicissitudes que
insistem em minar nossa
resistência, diante do ser
humano que mirando-se
no espelho desvia o olhar
tentando enganar a si
mesmo! Elevo meus olhos
à Deus na esperança de
que possamos ainda nos
perdoar.



CLÓVIS CAMPÊLO

O TEMPO NÃO PARA!





38 anos, 40 quilos e muitos cabelos brancos separam as duas fotografias acima.

A primeira foi feita pelo meu amigo José Arimateia, que hoje mora em Atibaia, São Paulo, numa tarde do ano de 1972.

A segunda foi feita por outro amigo, Aristóteles Coelho, em dezembro de 2010, pela manhã.

Não sei se conseguimos, mas a idéia era mostrar como o tempo transformou a mim e a paisagem urbana do local, na orla de Brasília Teimosa, no Recife.

UM POUCO DE HISTÓRIA

A comunidade de Brasília Teimosa surgiu no final dos anos 50 e início dos anos 60 do século passado, quando a drenagem da bacia do Rio Pina aterrou uma área de mangue que ficava entre o mar e o rio.

No novo areal, o povo pobre e sem ter onde morar começou a construir barracos e a ocupar de forma irregular os espaços vagos.

Durante a noite os barracos eram levantados por eles e derrubados, durante o dia, pela polícia.

Como na época estava sendo construída no Planalto Central do Brasil a cidade de Brasília, que viria a ser a nova capital federal, a insistência e teimosia do povo necessitado logo levou a nova favela a ser batizada com o nome de Brasília Teimosa.
O povo venceu e, ao longo dos anos, a ocupação foi sendo regularizada e urbanizada pelos poderes constituídos.

No ano 2000, numa eleição surpreendente, o Partido dos Trabalhadores elegeu João Paulo de Lima e Silva como o seu primeiro prefeito no Recife. De origem humilde, filho de um cobrador de ônibus, ex-metalúrgico e um dos fundadores da Central Única dos Trabalhadores e do PT no Estado de Pernambuco, João Paulo enfrentou muitas dificuldades nos dois primeiros anos do seu mandato municipal, durante a gestão de Fernando Henrique Cardoso.

Quando Lula se elegeu presidente em 2002, a coisa mudou e a cidade do Recife passou a ter um tratamento diferenciado. O bairro de Brasília Teimosa foi um dos mais beneficiados, com um projeto de reurbanização da orla, com a retirada dos palafitas e barracos que ainda existiam e com a criação da Avenida Brasília Formosa.

Portanto, a mudança desse cenário, onde eu me insiro com muito orgulho, faz parte da história do Recife, de Pernambuco e do Brasil.




Recife, 2011

COISAS DA VIDA

A INTIMAÇÃO

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

(Por Violante Pimentel) Joaquim era um antigo oficial de justiça de uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte, e exercia o seu trabalho com satisfação.  Era muito espirituoso, conversador, e cheio de frases irônicas e inteligentes.  Gostava muito de ver a reação das pessoas intimadas ou citadas judicialmente, principalmente quando eram ricas e metidas a importantes. Era impressionante a sua fisionomia de júbilo, quando via a reação de revolta das pessoas intimadas judicialmente.  No seu dia-a-dia, era comum ouvir palavrões contra o Juiz, Promotor, Advogado, ou contra a própria Justiça. O trabalho que exercia, para ele, era um regozijo. Fazia o que gostava, e deixava transparecer que se divertia com a irritação dos outros.

Certa vez, levou uma intimação a um fazendeiro rico da cidade, para que comparecesse ao fórum no prazo marcado, para tratar de uma demanda trabalhista.  Como portador não merece pancada, Joaquim, levou a intimação ao fazendeiro, sabendo que iria ouvir muitos impropérios, pois o respeitado cidadão era um “cavalo batizado". Tratava-se de um homenzarrão de fazer medo, e sua voz estridente podia ser ouvida a um quarteirão de distância. 

 O homem se recusou a receber o mandado. No dia seguinte, Joaquim se dirigiu novamente à residência do fazendeiro, que não quis nem conversa com ele. O oficial de justiça disse, então, à sua filha que, no dia imediato, às 10 h, estaria ali para entregar a intimação. Seria o terceiro e último dia do prazo legal, para a entrega do referido mandado.

Na manhã seguinte, à hora marcada, estava Joaquim na porta da residência do fazendeiro. Dessa vez, quem o recebeu foi a sua esposa, uma senhora calma e educada, exatamente o oposto do marido. A mulher disse ao oficial de justiça que o esposo, em hipótese alguma, iria receber qualquer intimação, nem assinaria qualquer documento. Joaquim, então, insistiu com a mulher, dizendo-lhe que, de acordo com a lei, teria que registrar essa recusa, e que ela mesma teria que receber e assinar a contrafé do documento. Caso contrário, ele chamaria testemunhas para registrar o fato.

Dona Rosilda, muito nervosa, pediu licença para entrar e tentar convencer o marido a atender ao oficial de justiça. Mas o resultado foi pior… O fazendeiro apareceu na porta, indignado, esbravejando contra o Juiz, e contra o próprio oficial de justiça. Num assomo de extrema grosseria, arrebatou das mãos do serventuário da justiça a intimação, rasgando o documento em mil pedaços e,  enfurecido, falou:

- Olhe, seu safado, você diga ao Juiz que eu não assinei, nem assino coisa nenhuma, e que taqui ó!!! Taqui pra ele, ó!!!

E estirou o seu enorme dedo médio da mão direita, na cara do oficial de justiça, num gesto de conhecida irreverência.

Joaquim empalideceu, com medo de que o homem o agredisse fisicamente, mas logo se refez e o seu senso de humor falou mais alto. Encarou o temido brutamontes, olhou bem nos seus olhos e respondeu,  também estirando o dedo médio da mão direita para ele:

- TAQUI QUE EU DIGO, Ó!!! TAQUI Ó!!!

E mais que depressa, quase correndo, o oficial de justiça voltou ao Cartório, para as providências cabíveis.




sábado, 27 de dezembro de 2014

CASA DE FERREIRO...


A mulher se gabava de resolver qualquer problema, a preços módicos – de desemprego a amor não correspondido, passando por vícios, depressão, ansiedade, gula, impotência, cólicas menstruais etc.

Era, segundo familiares, marido à frente, um fenômeno, muito embora ela não entortasse garfos e colheres com o olhar, como aquele paranormal israelense, que fez grande sucesso anos atrás.

Pra lá de Bagdá, o marido pediu a penúltima e abriu o jogo:

-- Zeca: hoje, de novo, não vou dormir em casa.

-- Por quê? - quis saber o colega de copo.

-- Pra não estragar o negócio da minha mulher.

-- Como assim? - insistiu o curioso, após mais uma talagada profissional.

-- Do jeito que o povo gosta de falar... Vão dizer que minha mulher não é de nada, que não consegue fazer o marido parar de beber... Mas ela é poderosa. Só que ninguém tem 100% de aproveitamento. Até Pelé perdeu gol feito... Comigo a coisa ainda não funcionou.

-- E você vai dormir onde? – perguntou-lhe Zeca, após mais um gole.

-- Na casa de uma coligada, viuvinha da hora. Boa de cama e de copo. Tchau.

-- Vai com Deus.

-- Fica com ele. Precisando pode procurar minha mulher. Ela atende até às 23h. Aceita todos os tíquetes (refeição, alimentação) e cartões de crédito. Só não faz fiado. Nem aceita cheque. Fui.

(fevereiro de 2013)


CHARGES: DIRETO DA "BESTA"


paixao
PAIXÃO -- GAZETA DO POVO


ATRÁS DO JORNAL DA BESTA FUBANA 
SÓ NÂO VAI QUEM JÁ MORREU



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S.SALVADOR -- ESTADO DE MINAS


OPI-002.eps
AMARILDO 


aroeira
AROOEIRA -- O DIA 


CLÓVIS CAMPÊLO


Nosso amigo, Clóvis Campêlo, menino novo. Refletindo.

TALVEZ

Um dia estarei morto,
debaixo de sete palmos;
talvez tenha sido torto,
talvez tenha sido calmo;

talvez tenha sido certo,
talvez tenha meus pecados;
talvez tenha sido aberto,
talvez tenha me fechado.

Talvez tenha sido bom,
talvez tenha sido ruim,
talvez acertado o tom,

talvez acertado o sim,
talvez tenha tido o dom
de ter merecido o fim.

Recife, 2011



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sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

CHARGES - DIRETO DA "BESTA"

OPI-002.eps
AMARILDO -- A GAZETA

ATRÁS DO JORNAL DA BESTA FUBANA 
SÓ NÂO VAI QUEM JÁ MORREU


nicolielo
NICOLIELO


AUTO_samuca
SAMUCA -- DIÁRIO DE PERNAMBUCO


migueljc
MIGUEL -- JONAL DO COMMERCIO


jb
JORGE BRAGA - O POPULAR



DALINHA

ERA MIÇANGA!

Ganhei um par de brincos,
Tão dourado que luzia.
O amor de quem me deu
Com ele se parecia,
Não valia grandes coisas
Era só bijuteria.

No começo chamejava
Trazendo-me alegria,
Depois foi enferrujando
Como toda porcaria.
Joguei os brincos no lixo,
E quem miçanga trazia.



 

BRUNO NEGROMONTE

Coquetel Acapulco - Entrevista Exclusiva
O entrosado grupo carioca Coquetel Acapulco ao longo deste ano veio divulgando o álbum "Dama da noite", projeto lançado após dois exitosos Ep's. Este CD de estreia (também lançado em LP) chega ao mercado graças a bem sucedida campanha de Crowdfunding (uma espécie de financiamento coletivo, onde os próprios fãs e admiradores podem disponibilizar recursos para a viabilização daquilo que se deseja). O álbum, que vem somando elogios não só do público, mas também da crítica especializada traz doze faixas autorais que documentam e atestam a deliciosa e contagiante sonoridade produzida pelos jovens como foi abordada aqui mesmo em nosso espaço a partir da matéria "Eis a dissidência do óbvio", publicada ao longo da semana passada. Através da pauta anterior pode-se conhecer um pouco mais não só da biografia, mas também da sonoridade produzida por eles, atestando que o que fazem é uma música rica e heterogênea, que tem o Ska (um género musical que teve a sua origem na Jamaica no final da década de 1950) como uma das principais diretrizes. Mesmo em volta a ensaios e apresentações, o Léo Mahfuz, integrante da trupe, gentilmente disponibilizou-se a nos conceder esta entrevista exclusiva, onde em nome de todo o grupo, aborda expectativas futuras, os diversos gêneros musicais que os constituem, a forma de compor as canções do grupo, a ideia de prensar o LP entre outras informações como o desejo de um registro em DVD. Vale a pena a leitura!
Como surgiu a ideia da formação do grupo?
CA - Nossa primeira vocalista, Luisa Baeta, foi a responsável pela origem da banda. Ela decidiu reunir músicos da cena independente carioca para tocar ska, em suas vertentes diversas. Não era um projeto autoral, começou como algo bem despretensioso, mesmo. Tínhamos em comum a paixão pelo ritmo jamaicano, mas ninguém sabia muito bem aonde aquilo nos levaria. A guinada foi quando começamos a trabalhar composições próprias, que já apontavam para novos horizontes. Gravamos uma demo com essas primeiras músicas e o resultado foi muito rápido: em poucos meses estávamos abrindo shows para o Móveis Coloniais de Acaju, ainda em 2005, e para a novaiorquina The Slackers logo depois.
O grupo já vai com oito anos de estrada e desde o início vem construindo uma sólida imagem dentro do gênero que abraçaram. Quais os maiores percalços para se firmarem do modo como hoje vocês estão conseguindo?
CA - Por desencontros da vida, a Luisa foi viver no exterior em 2007 e teve que abandonar o projeto. Perdemos uma vocalista, fundadora do grupo, e tivemos que retroceder um pouco, em plena efervescência de shows e EP recentemente lançado. A partir daí tivemos alguns contratempos até conseguir estabilizar a formação e amadurecer a nossa sonoridade. Mas sempre mantivemos a rotina de shows. Quando a Sílvia Tardin entrou para o grupo em 2010, já tínhamos uma identidade musical consolidada, foi mais fácil se planejar e investir no disco, na produção da banda dentro do mercado.
Apesar do ska predominar é possível afirmar que são influências distintas que constituem a sonoridade do grupo como podemos perceber ao ouvir o álbum “Dama da noite”. Quais nomes podemos destacar como maiores influências da música que hoje vocês fazem?
CA - Uma boa dica para entender a nossa sonoridade seriam as versões que tocamos ao vivo, todas releituras bem peculiares de diversos gêneros musicais. Do samba-canção de Cartola ao rock com pegada de música negra do The Clash. Do soul/funk de Aretha Franklin ao afrojazz do maestro Moacir Santos. Aliás, algumas bandas de ska do final da década de 90, como Hepcat e Slackers, foram importantes em mostrar que o gênero pode ser dançante e complexo, pode conviver com qualquer estilo que tenha a música negra como raiz, desde o blues até a salsa. Coisa que, aliás, o Paralamas do Sucesso de certa forma já tinha começado a experimentar um pouco no Brasil desde a década de 80.
Como se deu a escolha do repertório do álbum?
CA - Nós fomos para o estúdio no intuito de gravar todas as músicas autorais que faziam parte do repertório do show: 14 no total. Como o processo de gravação foi todo muito espontâneo, o critério para a escolha das 12 faixas do álbum acabou sendo as que estavam mais bem executadas, as que nos satisfizeram mais. Por isso, convivem no disco músicas dos primeiros anos da banda, com arranjos novos, e canções que compusemos na última hora, prestes a entrar no estúdio.
E o processo de composição de vocês? De que forma acontece?
CA - O processo é bem coletivo e natural. Normalmente escrevo as letras, mas já houve outros letristas na banda também. Quando alguém surge com uma ideia, seja um arranjo, uma harmonia ou uma melodia, nós vamos construindo em conjunto o esboço da canção. Definimos a célula rítmica juntos, o andamento, qual tempero a gente vai dar pros arranjos, o tom etc. Dificilmente a música já se apresenta toda delineada. O mais prazeroso é ver uma ideia incipiente ganhar um contorno completamente novo, uma abordagem que você sozinho jamais conceberia. O resultado é que o disco tem 7 compositores diferentes e várias parcerias, além da contribuição de cada integrante em todas as músicas.
Neste primeiro álbum vocês tiveram a ideia de também lançá-lo em LP. Vocês acreditam que retomada da fabricação do vinil no Brasil chega para dar um up ao mercado ou veio apenas para atender a um nicho específico de público, uma vez que os preços dos discos não são tão atrativos quanto o dos cd’s?
CA - A ideia de prensar o LP veio como algo que fazia todo o sentido pra gente: a arte da capa, uma foto colorizada, remete à época do vinil, é outra dimensão quando se tem o LP em mãos. Nosso som também se valoriza ao se escutar o vinil, por causa da compressão que é menor, dos graves que surgem. Quando convidamos o Victor Rice para produzir o disco, o caminho ficou ainda mais claro: ele trabalha a mixagem de forma totalmente analógica, ao vivo, utilizando máquina de rolo, fita magnética, mesa e efeitos não digitais. Até a ordem das faixas foi pensada como se o disco estivesse dividido em Lado A e Lado B. Quanto ao mercado do vinil, é uma questão ainda em aberto. Parte do interesse vem de um nicho de público, sim. Pessoas que, por nostalgia, modismo ou sincera preferência pelo som do vinil, podem se dar ao luxo de investir não só num LP como num toca-disco, que também é muito caro ainda no Brasil. Mas no exterior, especialmente na Inglaterra e nos EUAs, o preço não é proibitivo e as vendas já superam a dos cds (venda física). O diferencial, acredito, é que o vinil significa um retorno a uma lógica em que a música era menos banalizada, não existia shuffle (risos). O LP é sinônimo de qualidade e dificulta uma cópia fiel.
Vocês estão utilizando das mais diversas ferramentas existentes via internet para auxiliar na viabilização de projetos e divulgação do trabalho com uma boa receptividade do público. Como tem sido feito este trabalho?
CA - A internet não substitui a imprensa tradicional, menos ainda no meio musical. Mas permite que você crie novas conexões com o público, conheça-o melhor, possa interagir mais, mostrar seu trabalho e engajar o fã. O trabalho que realizamos através das ferramentas da internet, especialmente com as redes sociais e o Youtube, tem buscado esse elo constante com o nosso ouvinte: estar sempre próximo, mostrando o que temos a oferecer de novo, de singular, pensando esse contato de forma multimídia. Foi o que aconteceu com o crowdfunding que realizamos para lançar o disco, no ano passado. Preparamos vídeos de divulgação, oferecemos recompensas diferentes como aulas de canto e de instrumento com nossos integrantes, rodada de drinques, pocketshow, composição exclusiva e até a participação no videoclipe de Me Deixe Saber, que acabou contando com a presença de 13 apoiadores. Sejam por fotos, vídeos de shows, gravações de ensaio, músicas novas em versões acústicas, o importante é manter esse canal sempre vibrante, pois só assim conseguiremos dar vazão ao que produzimos, num mundo tão conectado e fluido.
Vocês recentemente lançaram o videoclipe da canção “Me deixe saber” alcançando 5 mil visualizações em duas semanas. Com este sucesso vocês já pensam na produção de um DVD ou algo semelhante?
CA - É uma boa ideia, hein (risos)? Foi muito gratificante gravar esse clipe, não tínhamos tanta consciência de como seria um divisor de águas pra banda. Só temos a agradecer à equipe da produtora Caos e Cinema, pelo talento e profissionalismo. Em 12 horas ininterruptas de gravação, foi possível captar muito bem o clima que queríamos. Dá vontade de fazer um segundo clipe, também. Mas realmente um DVD que captasse a nossa energia ao vivo seria algo fundamental. Assim como o clipe expandiu a forma através da qual o público enxerga a nossa música, gerou novas nuances, um DVD de um show permitira realçar o nosso lado mais dançante, mais pulsante, que o disco capta bem, mas ao vivo e visualmente é outra coisa.
Quais as expectativas para 2014?
CA - Para o ano que vem, o nosso planejamento é aproveitar a repercussão do disco e do clipe para viajar pelo país, mostrar o trabalho em outras cidades. Outro desejo nosso é conseguir desenvolver parcerias, musicais e também de produção de eventos, para fomentar novas possibilidades no meio. Gravar um segundo clipe seria ótimo, quem sabe até um DVD? Enquanto isso, já temos algumas composições novas que estão entrando no repertório do show, já pensando num próximo disco. Outra ideia legal seria gravar algo como o “Studio Sessions” que os americanos fazem tão bem. Gravações de vídeo caprichadas da banda em estúdio, com a possibilidade de exibição online e em tempo real. O futuro parece estar muito por aí.
Pra finalizar gostaria da opinião de vocês perante as polêmicas referentes a autorização ou não acerca de biografias. Artistas diversos estão tomando posições sobre a autorização ou não. Vocês tem uma opinião formada sobre o assunto?
CA - Confesso que não formei completamente a minha opinião. Num mundo ideal, sob o império do bom senso, a liberdade deveria ser total. A necessidade de autorização de biografias, do jeito como preveem atualmente os artigos do Código Civil, poderia sim abrir precedentes para no futuro se limitar o direito à informação jornalística. Recentemente assistindo à entrevista do Paulo César de Araújo, biógrafo do Roberto Carlos, no programa Roda Viva, alguém destacou que a biografia hoje é uma das últimas formas de se fazer um jornalismo mais profundo, com reflexão e mais independência. Compreendo esta demanda. Assim como compreendo o interesse em proteger a privacidade, pois não existe liberdade sem preservação da intimidade. Vide as espionagens americanas pelo mundo, em nome da guerra ao terrorismo. Em vez de olharmos para o mundo anglo saxão, que tem uma cultura mais tolerante com a invasão à privacidade, talvez o melhor fosse buscar outros exemplos de democracia. Prever uma indenização severa a quem ferir direitos de privacidade ou ofender a honra seria um grande passo, assim como a possibilidade de alguém que se sinta ofendido numa biografia possa colocar em destaque na capa essa contrariedade, como é na França, país que me parece ter um melhor equilíbrio nessa questão.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

COISAS DA VIDA

O PRESENTE DE NATAL

Violante Pimentel
Violante Pimentel é procuradora aposentada
 do Estado do Rio Grande do Norte

Era a semana do Natal. Não havia ainda Shopping Center na cidade. O comércio fervilhava de pessoas, pondo em prática o consumismo que a época impõe, com a compra de presentes e outros apetrechos para as festas de fim de ano. A melhor sapataria da cidade, "Damião Calçados", encontrava-se repleta de clientes.

O proprietário, já idoso, gostava de atender à clientela e não parava de supervisionar o atendimento, feito pelos filhos e alguns empregados. A esposa tomava conta do caixa.

A tarde era de grande movimento.

De repente, Seu Damião viu entrar na sua sapataria um cliente desconhecido, de ótima aparência, bem vestido e educado, querendo comprar sapatos da melhor qualidade. Com ele, estava um garoto franzino, que aparentava ter uns dez anos de idade.

Com a delicadeza que lhe era peculiar, o dono da sapataria atendeu ao cliente, mostrando-lhe sapatos macios e confortáveis, de excelente marca. O homem provou os sapatos que lhe foram mostrados, dando alguns passos, para sentir quais seriam os mais confortáveis. Enquanto isso, o garoto também provava alguns sapatos, e escolhia os melhores.

Atendendo ao chamado da esposa, Seu Damião se afastou um pouco, mas voltou imediatamente, para saber a decisão do cliente diferenciado e do garoto.

Nessas alturas, a loja estava lotada e Seu Damião apressava-se para concluir aquele atendimento, pois outros clientes aguardavam a vez de serem atendidos.

Quando se preparava para tirar a nota de compra dos calçados, o dono da sapataria olhou em volta, e não viu mais ali o novo cliente, mas apenas o garoto, que tinha nas mãos o par de sapatos que escolhera. E o homem, então, perguntou:

- Menino, onde está seu pai, que estava aqui, agora mesmo, experimentando um par de sapatos pretos?

E o garoto, assustado, respondeu:

- Aquele homem não é meu pai, não! Eu estava lá na outra rua, ele me chamou e me perguntou se eu queria receber um par de sapatos de presente de Natal. Como eu sou pobre, fiquei muito contente e vim com ele comprar meu presente.

O vigarista deixou na sapataria  seus sapatos surrados, e  fugiu, levando nos pés um par de sapatos novos, de excelente marca.





CLÓVIS CAMPÊLO

O QUE ESPERAR DO ANO NOVO?

Nosso amigo, Clóvis Campêlo, menino novo. Refletindo.
  
(Por Clóvis Campêlo) Talvez tudo isso seja apenas mais uma convenção humana. Não gosta o homem de tudo dividir, diminuir em pedaços e talvez ter uma compreensão melhor dos processos? Talvez seja por aí.

Afinal que sentido faz dividir o tempo, tentar seccioná-lo em locos? Não será ele uma linha contínua e ininterrupta rumo ao infinito? Mesmo que em algum trecho desse trajeto nós nos despeçamos dele, ele seguirá impune a sua rota pré-estabelecida sabe-se lá por quem.

Para onde caminha a humanidade e nós, míseros humanos? Por que insistimos em destruir a natureza onde que vivemos em vez de exercitar a coexistência pacífica? Que estranhas teorias conspiratórias (ou suicidas) orientam a nossa maneira de agir?

O meu amigo Milton Banana diria que essas considerações existenciais estariam fora de moda, que o homem pós-moderno exercita a sua praticidade sem ressentimentos ou sentimentos de culpa. Talvez numa estratégia insana de não pensar para não sofrer. Talvez numa estratégia pouco inteligente de preocupar-se apenas com o momento presente. Afinal, como indivíduos, somos transitórios e finitos.

Mas, contrariando Banana e sua praticidade pós-moderna, digo que me preocupa o destino do mundo mesmo sabendo que talvez não esteja mais aqui se acontecer uma catástrofe por nós provocada.

Afinal, que direito temos nós, os humanos desumanos, de colocar em risco a nossa existência e a existência de todas as outras espécies que conosco estão nesse mesmo barco? Em nome de que ideologia ou sistema, vamos nos permitir agredir o equilíbrio que sustenta a nós mesmo e a todos os nossos outros companheiro de viagem? Isso não me parece sensato, embora possa ser demasiadamente humano.

Mas, como ser humano, como poeta, e como bicho que quer sobreviver, exercito esse meu senso crítico e impotente.

Talvez isso me torne mais esperançoso de que, no ano que vem, possamos vislumbrar outras matizes. Talvez isso seja necessário apenas para me acalmar os ânimos e reanimar a força que os sentimentos dessa época antes me traziam.


Recife, 2014

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

CHARGES: DIRETO DA "BESTA"

jb
JORGE BRAGA - O POPULAR 


ATRÁS DO JORNAL DA BESTA FUBANA 
SÓ NÂO VAI QUEM JÁ MORREU


clayton
CLAYTON - O POVO



passofundo
PASSOFUNDO - CHARGE ONLINE


hqa
SPONHOLZ



DALINHA

NA REDE DA PAIXÃO


Quando chega o fim do dia
No alpendre armo a rede
No compasso de espera
Eu jogo o pé na parede
Fico neste vai-e-vem
Esperando que meu bem
Venha matar minha sede.

Espero que hoje à noite
Impere a escuridão
Que a lua fique entre nuvens
Escondendo seu clarão
Que o céu da cumplicidade
Que forja a felicidade

Resguarde nossa paixão.


BRUNO NEGROMONTE

EIS A DISSIDÊNCIA DO ÓBVIO
Integrantes do sexteto Coquetel Acapulco lançam CD nesta sexta, no Arpoador
Lançado em 1928, o "Ensaio sobre música brasileira" do poeta, musicólogo e romancista Mário de Andrade traz de modo vanguardista questionamentos acerca das influências culturais na constituição rítmica, melódica e formal da música brasileira. Em dado momento a obra Andrade defende a plausível ideia de que a música brasileira existe além daquilo que consideramos como matrizes de nosso cancioneiro, inclusive procurando trazer questionamentos acerca de suas ideias. Para fundamentar seus pensamentos o escritor lança a seguinte reflexão: "(...) por causa do sucesso dos Oito Batutas ou do choro de Romeu Silva, por causa do sucesso artístico mais individual que nacional de Vila-Lobos, só é brasileira a obra que seguir o passo deles?". Se vivo hoje estivesse e conhecesse o som produzido por esses jovens cariocas afirmaria com toda a convicção de que valeu a pena suas horas e horas dedicadas ao assunto tendo por objetivo a elaboração de compêndios sobre o tema.
Não afirmo se os jovens do Coquetel Acapulco beberam da fonte do escritor, no entanto a prática da banda condiz e muito com as teorias defendidas pelo autor de Macunaíma, pois o grupo não tem passos definidos a seguir. É preciso enfatizar que essa autonomia não os deixam sem norte, pelo contrário, o trabalho do jovem grupo (que sofre influência de diversos estilos musicais) transforma-se em uma coesa unidade sonora e que agora é possível averiguar através deste debute fonográfico em CD e LP cujo título é "Dama da noite", e traz doze faixas autorais que misturam melodias e harmonias que trazem arraigada a identidade do grupo abordando os mais variados temas.
Criada em 2005 a banda é formada por Silvia Tardin (voz, vocais de apoio e percussão), Pedro Sucupira (saxofone e vocais de apoio), Nando Arruda (trombone e vocais de apoio), Mario Travassos (teclados), Léo Mahfuz (contrabaixo) e Filipe Rebello (bateria, percussão e vocais de apoio). Sendo da formação original apenas três integrantes: Nando, Léo e Filipe. Ao longo desses anos já passaram pelo grupo diversos vocalistas, dentre os quais Luiz Baeta, Aline Nabisi e André Monnerat. Ao longo desse período o grupo chegou a lançar dois Ep's (o primeiro em 2007 e o segundo em 2011) e agora traz como resultado de uma bem sucedida campanha de crowdfunding (campanha para obtenção de recursos através da internet). 
Sob a égide principalmente do Ska (gênero musical surgido na Jamaica na década de 1950 e que traz em sua constituição elementos sonoros caribenhos e americanos tais quaiscalipso, o jazz e o rhythm and blues), o álbum traz faixas bastante interessantes como a instrumental 'Tango' (Pedro Sucupira), que apesar do nome mostra de forma à brasileira porque o gênero musical jamaicano propagou-se rapidamente no mundo e o porquê dele ser capaz de contagiar à todos (sem exceção) já em seus primeiros acordes. A contagiante abertura dá pano pra manga para Silvia entoar 'Me deixe saber' (Léo Mahfuz) e 'Cortesia' (André Monnerat e Léo Mahfuz), que fundem-se em uma perfeita unidade sonora.
O baile não pára e de modo efusivo o Coquetel apresenta 'Da noite' (Léo Mahfuz) e continua a nos embriagar com doses sonoras mais impactantes como, por exemplo, a faixa '854' (Luiz de Marcoe Mahfuz e Sucupira) canção instrumental presente no álbum que destaca o trombone de Nando Arruda. Em 'Conga' (Luiza Baeta, Luís de Magalhães e Léo Mahfuz) destaque para o naipe de metais. Sem perder o ritmo, o baile ainda conta com 'Horizonte' (Luiz de Magalhães e Léo Mahfuz) e com a dupla Sucupira e Mahfuz, que merecem destaque pelas composições 'Amor em fuga' e 'Velho mundo', faixas que mostram a leveza sonora de um grupo que vem sabendo de modo muito coeso imprimir a sua identidade. O disco ainda conta com 'Boas maneiras', 'Que tal Paris' e 'Campo Minado', três composições de Léo Mahfuz que endossam as mais diversas situações abordadas pelo Coquetel Acapulco no álbum. Seja o universo feminino, desencontros amorosos ou descobertas pessoais, o grupo soube muito bem quais seriam as vestimentas sonoras precisas.
Masterizado no estúdio El Rocha (SP), por Fernando Sanches, a ficha técnica do projeto conta na produção também com nomes como o do norte-americano Victor Rice, músico e produtor conhecido principalmente na música jamaicana por trabalhos como The Slackers, Easy Star All Stars eNewYork Ska Jazz Ensemble, além de por produções mais recentes no Brasil com Marcelo Camelo,Bixiga 70 e a Mallu Magalhães.
Seja ska, seja reggae ou qualquer outro ritmo que os definam o importante é o grupo soube adaptar sua sonoridade às suas diversas influências, fazendo de sua música um harmonioso painel onde a contemporaneidade convive harmoniosamente com aquilo que é nostálgico. Transformando na verdade aquilo que fazem em um delicioso coquetel de ritmos , onde souberam dosar de modo preciso aquilo que constitui o som que fazem e acreditam. Vale a pena deixar-se contagiar pela alegre sonoridade deste grupo que de modo despretensioso soube associar uma impressionante leveza ao som que fazem.
Aos amigos leitores deixo a para deleite uma das canções presentes no projeto e que acabou virando a música de trabalho da trupe. Tratas-se "Me deixe saber", canção composta por Léo Mahfuz: