Luislinda, a escrava - Foto: NBR |
A
ESCRAVA LUISLINDA
A
ministra dos Direitos Humanos, logo ela, quis aproveitar a onda
contra o
“trabalho escravo” para dobrar o seu salário.
Assim também já é demais
Por
J. R. Guzzo
02/11/2017
– 23h20
Ninguém
sabia até algumas horas atrás quem era essa Luislinda Valois, ministra dos
Direitos Humanos – sim, acredite ou não, existe tal emprego no Brasil Para
Todos: “ministro dos Direitos Humanos”, com direito a carro chapa branca e
todas aquelas outras cerejas no bolo que você conhece tão bem. Luislinda, em condições
normais, seria mais um caso de alta autoridade que faz a costumeira viagem do
anonimato para o anonimato. Mas a ministra resolveu aparecer – e armou um
desastre que, a partir de agora, se transforma na história da sua vida.
“Luislinda?”, vão dizer no futuro os que ainda se lembrarem do caso. “É aquela
que queria ganhar 60.000 reais por mês, porque acha que os 33.000 e tantos que
está ganhando são tão pouco que caracterizam trabalho escravo.”
A
ministra queria somar o seu salário de desembargadora na Bahia aos vencimentos
que tem à frente o ministério. Não pode, embora seja praticado abertamente de
norte a sul em nosso Brasil brasileiro por um monte de gente que manda mais do
que ela. Mas há certas coisas que não dá para fazer nem em Brasília. Dizer-se
vítima de “trabalho escravo” ganhando mais de 30.000 reais por mês, e pedir que
o erário público lhe pague o dobro do que já está pagando, é uma delas.
Não
deu certo. Todo o mundo ficou sabendo, porque foi publicado na imprensa, e
Luislinda teve de desistir subitamente do requerimento que havia feito. Porque
desistiu, se achava que tinha razão? Afinal, ela foi capaz de escrever uma
petição com mais de 200 páginas exigindo os seus 60.000. É coisa muito pensada,
que levou tempo e deu trabalho para fazer – só de pensar na obrigação de ler um
negócio desses a pessoa já fica exausta. Se considerava a si mesma tão cheia de
razão, tinha de insistir no seu pedido – no mínimo, para não incentivar essa
turma que, segundo a pregação corrente na praça, quer abolir a abolição da
escravatura. Mais: se o governo não iria atender ao seu grito de revolta, ela
teria, pelo menos, de pedir demissão do cargo.
Que
esperança. Luislinda continua lá, com salário de escrava e tudo, porque no fim
das contas é isso o que lhe interessa: ficar. É a atitude clássica do mandarim
brasileiro. Se faz alguma coisa escondido e ninguém percebe, beleza. Se ficarem
sabendo e der confusão, Suas Excelências caem fora.
O
ministério ocupado por Luislinda, em si, já é uma trapaça gigante. Direitos Humanos?
Como, num governo que gasta mais de 1 trilhão de reais por ano, não há ninguém
para cuidar disso? Precisa de ainda mais gente? É engraçado: quando mais
imprestável é alguma coisa no serviço público, maior é a tendência de seus
responsáveis se meterem em casos assim. A ministra só é diferente numa coisa,
apenas uma, da manada de promotores, procuradores, juízes, desembargadores (ela
tem esse cargo, aliás), ministros dos tribunais regionais, superiores e
supremos, marajás variados, etc.: quase todos eles violam sem o menor
constrangimento a lei do teto salarial e saem ganhando sempre. Luislinda, no
fundo, é apenas mais uma prova, agora apresentada de uma forma francamente
patética, do mundo de demência em que vivem os altos funcionários deste país. Passam
a acreditar, com empenho fanático, que a realidade é aquela que vivem, e que o
pagador de impostos tem a obrigação de prover o bem estar que decidem ser
indispensável para si próprios. A psiquiatria chama isso de “desordem
delusional” – o conjunto de alucinações e crenças psicóticas através das quais
o indivíduo nega a realidade ao seu redor e constrói um universo artificial
onde tudo existe em função de seu interesse pessoal. É um distúrbio ilusório
grave. Parece que não tem cura.
Quanto mais leio, mas a indignação me corroi!
ResponderExcluir