sábado, 18 de novembro de 2017

POLÍTICA/OPINIÃO: NELSON MOTTA

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CAMBISTAS: A POLÍCIA FINGE QUE PRENDE

BICHO SOLTO

Os bicheiros que vemos todo dia em suas cadeiras
na calçada poderão continuar anotando apostas,
mas em maquinetas eletrônicas ligadas
à central de loterias da Caixa

Nelson Motta
O Globo – 17/11/2017

Do desespero para sairmos do buraco fiscal nascem propostas para a legalização de bingos e cassinos no Brasil, com discreta aprovação do governo.

Mas, apesar dos lobistas que levam parlamentares da bancada do jogo a Las Vegas e Punta Del Este, no mar de lama do Congresso há “resistências morais”... rsrs

E o jogo do bicho? Por que ninguém fala em legalizar a secular diversão popular brasileira?

Claro, os maiores interessados na proibição são os bicheiros, que mantêm sua máquina de poder, e os políticos que ajudam a eleger, os policiais e juízes que corrompem.

Não dá para continuar gastando os preciosos tempo e dinheiro da polícia na farsa da “contravenção”, em que a polícia finge que prende e o contraventor finge que é preso, para que tudo continue como está: o jogo do bicho como fonte inesgotável de corrupção. E de violência. Nas lutas de quadrilhas pelos pontos. Na guerra ao bicho, dá burro na cabeça.

Que misteriosas razões permitem apostar em cavalos, mas não em outros bichos?

Por que o Estado deixa os pobres perderem dinheiro em loterias, megassenas e raspadinhas, jogos apropriadamente chamados “de azar”, mas criminaliza o bicho?

O bicho, ao menos poeticamente, tem os sonhos para orientar as apostas.

Mas não faz sentido legalizar o bicho para entregá-lo aos bandidos de sempre. Até os privatistas radicais vão concordar que é um raro caso em que o Estado, que já administra inúmeras loterias, pode assumir a zoológica — porque já tem estrutura, tecnologia e uma rede nacional eficiente.

Não haverá problema de desemprego: os bicheiros que vemos todo dia em suas cadeiras na calçada poderão continuar anotando apostas, mas em maquinetas eletrônicas ligadas à central de loterias da Caixa, emitindo talões com a nova garantia: vale o digitado.

Mas neste governo, como em governos recentes (Geddel foi vice-presidente de loterias da Caixa com Dilma), o maior perigo de estatizar o bicho é empregar tantos burocratas e afilhados, gastar tanto em escritórios, salários, carros, viagens, impostos, licitações fraudadas e aditivos, que não vai sobrar dinheiro para pagar as apostas...


Nelson Motta é jornalista

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