terça-feira, 17 de março de 2015

PEÇA MENOS DO QUE PRECISA

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Não conheço gente que goste de se passar por besta. Não fujo à regra. Embora tenha cara de besta, jeito de besta e me façam sempre de besta, não sou besta. Acho. O fato objetivo é que ir ao açougue, laticínios ou a qualquer estabelecimento comercial que venda mercadorias por peso tornou-se, para mim, tarefa penosa. Vou apreensivo, volto com os nervos arruinados. A desfaçatez dos balconistas é medonha. Rezam pela mesma cartilha. Foram todos adestrados na Escola da Lambança Comercial.

Até chego animado, na esperança de que o inevitável não ocorra. Esperança tola. O inevitável logo se apresenta. Saco a lista de compras do bolso e faço o pedido:

— Duzentos gramas de peito de peru light sem casca e duzentos de salame, por favor.

— Só isso, hoje?! – grunhe o atendente com a falta de modos característica dos mal pagos.

Você nunca sabe se, afinal, ele está lhe fazendo uma pergunta ou ironizando seu gasto miúdo. O que pretende o infeliz: que eu esvazie o estoque da espelunca em que ele trabalha? Que eu me empanzine de embutidos até enfartar?


 "A desfaçatez dos balconistas é medonha. 

Foram todos adestrados
 na Escola da Lambança Comercial" 

Confirmado o pedido, o troco vem a cavalo.

— Passou um pouco. Posso deixar ou quer que eu tire? – pergunta o enfarado de avental.

— Mas passou quanto?

— Deixa ver. Deu 320 de peito e 350 de salame.

— Passou muito, mas pode deixar.

Ante os olhares superiores da turma do cartão-alimentação, que está ansiosa na fila, sai mais barato pagar mais caro que passar por mendigo. Antes de entrar no açougue, a próxima de outras paradas obrigatórias, melhor examinar o bolso. Por que ali, com certeza, também “vai passar um pouquinho”, coisa de 50% a mais do pedido. É preciso ver se há dinheiro para tanto... (2013)




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