terça-feira, 17 de março de 2015

CLÓVIS CAMPÊLO

QUEM É DE PEIXES

CHICO SCIENCE

Leio nos jornais de hoje que a memória de Chico Science está esquecida pelos poderes públicos. O seu velho Landau está abandonado no Espaço Ciência, simbolicamente situado na divisa entre as cidades de Olinda e Recife, enquanto no Pátio de São Pedro, no centro histórico do Recife, o memorial Chico Science encontra-se esquecido e sem manutenção.

Acho interessante essa necessidade de se manter a lembrança e a memória dos que já se foram, muito embora os poderes públicos vejam isso, na realidade, como mais um ato de conveniência política.

Chico morreu em fevereiro de 1997, na véspera do carnaval, aos 31 anos de idade, em pleno apogeu da fama e da criatividade. Aliás, diga-se de passagem, Chico Science era o Nação Zumbi. Sem ele, a banda institucionalizou-se, perdeu a criatividade das composições, e vive apenas se mantendo da fama conquistada anteriormente. Deixou de ser revolução para ser status quo, muito embora não possamos prever como estaria hoje o processo criativo de Science, se teria evoluído ou também estagnado. Enfim, tentar decifrar isso exige perspicácia para a nossa ciência. Chico Science nasceu, viveu e morreu em Olinda. Em 2008, chegou a ser incluído pela revista Rolling Stones, entre os cem maiores artistas da música popular brasileira. Saravá, Chico!

CLÓVIS CAMPÊLO

Mas, Chico Science não foi o único revolucionário a nascer no dia 13 de março. Em 1900, na virada do século, nascia em Panelas, cidade situada no agreste de Pernambuco, Gregório Bezerra, o homem de ferro e flor. Pobre, sem-teto, como tantos outros imigrantes, foi analfabeto até os 25 anos de idade. No Recife, foi carregador de bagagens na Estação Central, ajudante de obras e jornaleiro. Durante algum tempo dormiu entre as catacumbas do Cemitério de Santo Amaro. Foi como jornaleiro que se alfabetizou e politizou, chegando ao posto de sargento do Exército do Brasil e ingressando no Partido Comunista Brasileiro. Preso, durante a ditadura de 1964, foi torturado e arrastado pelas ruas do bairro de Casa Forte. Teve seus pés mergulhado em solução de bateria, ficando em carne viva, cena esta exibida nos telejornais da época. Exilado, viveu no México e na União Soviética. Faleceu em São Paulo, em 1983, vitimado por problemas cardíacos. Em sua homenagem, o poeta Ferreira Gullar escreveu o poema Feito de ferro e flor. Revolucionário e libertário, Gregório Bezerra foi um grande brasileiro.

Outro pisciano famoso e histórico, nascido nesse mesmo dia, em 1830, em Quixeramobim, no Ceará, foi Antônio Conselheiro. Em pleno surgimento da República, Conselheiro, monarquista convicto, por uma série de questões, criou no sertão árido da Bahia, uma comunidade – Canudos - que, na época, chegou a ser considerada a segunda maior cidade baiana.

Seu temperamento quixotesco e visionário, ao lado do fanatismo religioso do povo do sertão, desafiou os novos conceitos políticos e legais que começavam a vigorar no Brasil daquela época. Numa região árida e hostil ao homem, criou uma comunidade próspera e justa. Os conceitos modernos e positivistas da República, ao lado dos interesses latifundiários dos coronéis do sertão, não tinham como conviver com isso. Canudos foi destruída em nome do progresso.

Recife, março 2015





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