Papai virou deputado. Em dez anos, ficou rico. A vida da família mudou.
Deu carro novo pros filhos, bancou viagens nacionais e internacionais pra todo
mundo. Não descuidou do futuro. Investiu em imóveis e ações. Comprou gado e
aves diversas. Sempre em nome de terceiros, gente próxima, do núcleo duro da
família. Arranjou bons empregos pra todos. Amante e esposa conviviam
socialmente. Até que...
Até que um dia pegaram o papai com a boca na botija. Um escândalo,
manchete de jornais. Quem diria que papai roubava? A família resolveu fazer uma
reunião de emergência. Mulher e filhos botaram papai contra a parede. (A amante
não participou do encontro. Uma questão de prudência.)
Papai não deixou a falsa indignação tomar conta da sala:
-- Escuta aqui: vocês acham mesmo que eu lhes daria tudo o que lhes dei
contando apenas com aquela merreca que é o salário da Câmara Federal e com o
dinheiro que tomo de volta dos funcionários?
Sensível, a primeira-dama oficial foi direto ao ponto:
-- Papai está certo. Estamos no mesmo barco. A união faz a força. Que
nada nos falte. Nada nos faltará, se nos mantivermos unidos. Só espero que a “outra”
não roa a corda.
Papai, reconfortado com o apoio, colocou mais gelo no uísque. E foi ao
banheiro: pra sondar a outra, via torpedo.
Aparentemente, estava tudo bem. Ufa.
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