VIDA
BESTA
A vida corre ligeira, voa baixo, feito corredor queniano na São
Silvestre.
Mas as horas insistem em não passar.
DE MAL
A PIOR
No mais das vezes, ao contrário do que dizem por aí, o tempo agrava nossos
defeitos e mina nossas poucas qualidades.
O
TEMPO
(QUE O
VENTO LEVOU)
Não deixe nada mais para o amanhã.
O amanhã não existe.
O amanhã passou por aqui agora, cheio de pressa.
Não disse até logo a seu ninguém, adeus nem pensar.
O amanhã passou por aqui neste instante, esbaforido, rumo ao nunca mais.
E riu da nossa tolice. Por tomá-lo como real.
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O CONTADOR DE
CARNEIROS
Era uma vez um homem que, desde menino, acostumara-se
a ver a vida pela janela. Esperava sempre as condições ideais para fazer aquilo
que sonhava fazer – a maneira mais objetiva de nunca fazer nada. Condições
ideais não existem.
Como o tempo não para, ele também ficou velho, como
ficam velhos todos, ou quase todos, os meninos. (Alguns morrem no meio do
caminho.)
Ainda lhe restam forças para fechar a janela, tomar
o elevador e, finalmente, caminhar. Mas de que lhe vale este fiapo de vigor, se
ele não aprendeu a atravessar a rua?
Melhor cerrar a cortina. E contar carneiros. Como
sempre fez.
CORRIDA
INÚTIL
De uma hora para outra, dez anos depois, todo mundo
saiu correndo.
Não precisava ser assim, esforço inútil.
Dez anos se foram.
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