O DIABO E A POLÍTICA
Sempre que leio os
jornais, lembro uma historinha que nem sei mais quem me contou. Naquela aldeia,
todos roubavam de todos, matava-se, fornicava-se, jurava-se em falso, todos
caluniavam todos. Horrorizado com os baixos costumes, o frade da aldeia resolveu
dar o fora, pegou as sandálias, o bordão e se mandou.
Pouco adiante, já fora
dos muros da aldeia, encontrou o Diabo encostado numa árvore, chapéu de palha
cobrindo seus chifres. Tomava água de coco por um canudinho, na mais completa
sombra e água fresca desde que se revoltara contra o Senhor, no início dos
tempos.
O frade ficou admirado
e interpelou o Diabo:
- O que está fazendo
aí nesta boa vida? Eu sempre pensei que você estaria lá na aldeia, infernizando
a vida dos outros. Tudo de ruim que anda por lá era obra sua - assim eu pensava
até agora. Vejo que estava enganado. Você não quer nada com o trabalho. Além de
Diabo, você é um vagabundo!
Sem pressa, acabando
de tomar o seu coco pelo canudinho, o Diabo olhou para o frade com pena:
- Para quê? Trabalho
desde o início dos tempos para desgraçar os homens e confesso que ando cansado.
Mas não tinha outro jeito. Obrigação é obrigação, sempre procurei dar conta do
recado. Mas agora, lá na aldeia, o pessoal resolveu se politizar. É partido pra
lá, partido pra cá, todos têm razão, denúncias, inquéritos, invocam a ética, a
transparência, é um pega-pra-capar generalizado, eu estava sobrando, não
precisavam mais de mim para serem o que são, viverem no inferno em que vivem.
Jogou o coco fora e
botou um charuto na boca. Não precisou de fósforo, bastou dar uma baforada e de
suas entranhas saiu o fogo que acendeu o charuto:
- Tem sido assim em
todas as aldeias. Quando entra a política eu dou o fora, não precisam mais de
mim.
(FOLHA ONLINE – 29/11/2005)
O pior, meu amigo Orlando, é que (ambos) sabemos que é a mais pura verdade! Uma fogueira de vaidades e um vício dos mais danosos e difícil de largar! pena...tanta gente boa que se envolve!
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