sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Bruno Negromonte

A viola que enternece o mundo

Chico Lobo é o tipo de artista que conhece o terreno onde pisa e essa afirmação se dá porque ele começou a desbravar desde cedo o universo da viola. Primeiro através do seu pai, o também violeiro Aldo Lobo Leite e posteriormente por iniciativa própria. Nascido na cidade mineira de São João Del Rei (uma das cidades brasileiras eleitas como capital brasileira da cultura), o artista é o terceiro dos quatro filhos do já citado violeiro com a ex-jogadora de vôlei pelo Minas Tênis Clube, Maria Antonieta Diláscio Leite. Chico é hoje considerado como um dos mais ativos violeiros do cenário nacional e essa sua obstinação em defender a cultura da viola tem feito dele um dos músicos mais atuantes no processo de valorização e e popularização dessa música de cunho tão interiorano. Violeiro de mão cheia, Lobo orgulha-se quando alguém a ele atribui a alcunha de caipira (termo de origem tupi que foi associado as pessoas do interior ao longo dos anos de forma tão depreciativa).

Porta estandarte de uma arte bordada em notas e acordes advindos do seu instrumento, Chico Lobo vem trilhando um caminho bastante consistente na estrada que resolveu seguir, e este êxito tem trazido ao músico mineiro um reconhecimento que há tempos extrapolou nossas fronteiras e o tem levado (juntamente com o seu tradicionalismo de ritmos como folias e serestas) para alguns dos principais festivais de música ao redor do mundo. Pode-se afirmar que o artista tem sido um dos responsáveis pela globalização da mais tradicional música mineira não só a partir dos espetáculos que vem apresentando, mas também através de exímios trabalhos fonográficos que vem atestando o talento de Chico desde 2006, quando gravou o seu primeiro álbum batizado de "Nos braços dessa viola" (uma produção independente que foi indicada no ano seguinte ao Prêmio Sharp, maior premiação existente na música brasileira à época). Desde então a coerência tem sido uma das principais características da discografia do artista, que traz registros como o álbum "Nosso coração caipira" (onde há a declamação de 25 clássicos da música caipira ao som de viola acompanhado pelo cantor e ator Jackson Antunes). Cada disco lançado por Lobo soa como algo maior, caracterizando-se mão apenas a mais genuína expressão caipira, mas mostrando-se uma verdadeira celebração de suas origens, pois cada faixa mostra um artista imbuído de corpo e alma em suas mais profundas influências e tradições, procurando mostrar não apenas sua peculiar habilidade sonora, mas também todos os elementos que adornam os acordes de suas composições a partir de inovações rítmicas; tornando-o um dos mais expressivos representantes deste contexto sonoro caipira ao longo de quase duas décadas de carreira fonográfica. Isso atesta porque o artista é um dos mais requisitados do gênero ao qual defende para viajar mundo a fora mostrando sua arte em países como a Itália (onde realizou diversos concertos, a projetos culturais, em Praças Públicas ao longo de 47 dias), China, Portugal, Canadá e Chile.

Quando o cantor e compositor Zeca Baleiro afirma: "Chico Lobo é um violeiro danado e inquieto, doido para alargar e alçar novos voos estético", talvez ele fundamente-se nessa inovação a qual está caracterizada a obra do artista mineiro. Chico procura fazer jus a máxima que diz que não há nada mais universal do que o nosso quintal. Sua originalidade tem o dom de conectar São João Del-Rei com qualquer canto do planeta sem deixar de ser raiz. Ele sabe passear (como poucos) na tênue linha existente entre o vanguardismo e o tradicional, estabelecendo um tipo de relação precisa e esteticamente apreciável como podemos observar neste mais recente trabalho, cujo título não poderia ser mais adequado: "Caipira do mundo".

Este é o sétimo título da carreira fonográfica do artista e, assim como os anteriores, traz características que o mesmo vem prezando desde o primeiro álbum, procurando manter cada registro em disco como um tratado de celebração, procurando abranger a sonoridade que vai além do universo da viola sem se deixar perder em sua essência. Desse modo Chico Lobo é capaz de reunir nomes como o da Banda de Pau e Corda, Suzana Travassos, Verônica Sabino, Zé Geraldo e Zeca Baleiro em seu universo particular.

Quase todas as faixas presentes no álbum levam a assinatura de Lobo em parcerias como nomes como Alice Ruiz (A mais difícil opção), Chico César (Tristeza do culto), Ricardo Aleixo (Cantiga do caminho), Sérgio Natureza (Canto a cântaros), Siba(Pássaro de alma), Verônica Sabino (No fio do olhar), Zeca Baleiro (Morena de Minas), Arnaldo Antunes (Eu ando muito cansado),  Vander Lee (Quando falta o coração), Vítor Ramil (Cantata), Maurício Pereira (Para onde que eu tava indo?) e Fausto Nilo (No fim da rua). A única faixa que não leva a assinatura do são-joanense é a canção "Dois Rios", composta por Lô Borges, Samuel Rosa e Nando Reis ganhando projeção nacional em 2003 no álbum Cosmotron, do grupo mineiro Skank.

O álbum ainda conta com a destreza de nomes como Rogério Delayon (charango), Ricardo Prado(sanfona), Simone Julian (coro, pífano, clarinetino e piccolo), Guilherme Kastrup, Roberto Andrade,George Andersen, Mek Natividade (percussões, percussões eletrônica e bateria), Tatá Sympa (vozes de aboio), Miriam Maria (coro), Hugo Hori (Coro), Tata Fernandes (coro), Dinho Nunes (coro); Regis Damasceno, Zé Nigro, Fernando Nunes e Sérgio Eduardo (contrabaixos), Bruno Morais (coro), Lui Coimbra (violoncello), Swami Jr. (viola de 7 cordas), Paulo Sérgio Santos (clarinete), Waltinho(violão), Júlio Rangel (viola), Beto Johnson (flauta), Tuco Marcondes (guitarra, violão e aço, violão barítono e 12 cordas), Marcelo Jeneci (wurlitzer e sanfona), Zé Pitoco (clarinetes e percussão), Toninho Ferragutti (acordeon) e por fim Livio Tragtenberg (clarones).

Deste modo Chico atesta de modo veemente que a troca do curso de educação física, da especialidade em psicomotricidade e da pedagogia pela música não foi apenas uma opção. Foi a escolha mais sensata para que houvesse a possibilidade de demostrar uma arte que, de forma uníssona, consegue fazer o passado adequar-se ao presente de modo bastante harmonioso; e no seu caso especificamente a oportunidade de ir além disso; pois sua arte tem a capacidade de substanciar o futuro da tradicional moda de viola a partir da manutenção e preservação dessa cultura a qual abraçou de modo tão intenso e sincero.

Para os amigos aqui do Blog do Lando ficam dois registros do violeiro presentes no álbum "Caipira do mundo". A primeira é "No fio do olhar", parceria de Chico com Verônica Sabino. A canção ainda conta com a participação de Zé Geraldo:
A segunda canção é "Pássaro de Rima", uma parceria do violeiro com o pernambucano Siba. Esta canção conta com a participação da Banda de Pau e Corda:

Um comentário:

  1. Jorge Macedo escreveu: Uma bela homenagem, meu nobre pesquisador Bruno Negromonte!
    Chico Lobo é um dos artistas que procura manter a tradição da viola caipira,um dos principais símbolos da música popular brasileira!
    Parabéns!

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