Levou uma vida de dores. Pelo menos é o que dizia,
em detalhes e com orgulho. Gabava-se de tomar uma quantidade gigantesca de
remédios, todos os dias, desde... Nem ela se lembrava desde quando. E a cada
semana, segundo seu próprio diagnóstico, o quadro se agravava. Era uma nova dor
que surgia aqui e acolá.
Mas verdade seja dita: reclamava, sim, mas não
muito.
Gostava de exibir aos ouvintes desatentos aquele ar
típico dos falsos resignados. Só ficava irada quando alguém lhe dizia, para ter
fé e paciência, que fulana sofria mais que ela. Tomava tal
afirmação como ofensa das grandes. Ninguém poderia sofrer mais que ela, segundo
a própria. “Seria algo além de humano”.
Na saída, após ter recomendado aos visitantes que
nunca fizessem vistas grossas a nenhum sintoma, “pode ser doença grave”,
arrematava:
-- Voltem sempre. É tão bom bater um papo gostoso
como o nosso.
Teste
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