Já fui muito festeiro, não sou mais. Se houvesse uma enquete para
definir o mês mais chato do ano, cravaria, sem pestanejar: dezembro. É um porre
de bebida ordinária. É pior que cuecas e sapatos apertados. Não chega a aleijar, mas incomoda.
Os preços disparam e raramente se encontra nas lojas o que se procura.
O trânsito consegue ficar infinitamente pior do que já é. O telefone não para:
de asilos a creches, todos querem uma doação extra. Os funcionários do prédio
esperam uma “caixinha gorda”, os balconistas da padaria também. O ajudante do
açougueiro, o carteiro e os medidores de água, luz e gás não fogem à regra.
Caracas: esta gente já não recebe o décimo-terceiro salário?
Não sei o que é pior: as festas de Natal ou as comemorações do dia 31.
Todo mundo de olho no relógio. Afinal, meia-noite é a hora de abraçar com
entusiasmo aquele parente que você paga para não ver ao longo do ano. Aquela
felicidade forçada é de arrebentar corações pouco valentes, como o meu. Pior
que isso, só o tal de “amigo oculto”. Perde-se muito tempo e dinheiro com essa
bobagem. Em geral, você dá ao “amigo” o que ele abomina, e recebe algo que para
nada lhe serve. É a lei da vida: aqui se faz e aqui se paga. Isso quando não
ocorre de você dar um panetone para a tia e receber da tia um panetone, da
mesma marca e tamanho. É patético.
Ah, temos os foguetórios, anunciando a chegada do novo ano. Todo mundo
de boca aberta, olhando para o céu e dizendo em uníssono: “Que lindo!”
Francamente. Que dizer, então, das simpatias? Calcinhas brancas para ter paz;
amarelas para ter dinheiro. E por aí vai. Suponho que as devassas, por coerentes
e pragmáticas, não usem calcinha alguma.
Ainda bem que não há mal que sempre dure. Janeiro logo chega. É tempo
de pôr em marcha tudo aquilo que, há duas décadas, em marcha prometemos pôr.
Tempo de recomeçar – a contar os dias que faltam para dezembro próximo.
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