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-- Doutor, eu relutei muito para vir até aqui. Sou
sincera: sempre achei essa coisa de análise bobagem. Coisa de quem gasta uma fortuna para
não resolver nada. Sou pragmática. Quero resultados. E rápidos. Neste mundo
cada vez mais competitivo, não se pode perder tempo.
-- E por que resolveu vir agora?
-- Porque me dei conta de que, sozinha,
infelizmente, já não sei lidar com meu trauma.
-- Estou aqui para ouvi-la, ajudá-la. Fale o que
quiser. Sinta-se em casa.
-- Sou bem sucedida profissionalmente. Sou formada,
pós-graduada, doutorada, calejada por cursos e mais cursos disso e daquilo.
Falo várias línguas. Fluentemente. É difícil encontrar um assunto sobre o qual
eu não tenha posições firmes, bem fundamentadas. Passei em vários concursos.
Ascendi nos empregos por mérito, apenas e tão somente por mérito. Ganho muito
bem, bota bem nisso. É que...
-- Que maravilha! É admirável encontrar uma pessoa
como você, com tantas qualidades. Não entendo a razão de trauma, complexo ou
algo parecido.
-- O senhor sabe o que é passar a adolescência, a
juventude e a idade madura sem nunca ter sido convidada para fazer um único
teste do sofá, sem nunca ter sido chamada de “gostosa” na rua, sem nunca ter
recebido um mísero assovio? Se o senhor não sabe, fique sabendo: é uma merda,
doutor! (março de 2013)
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