Ainda menino, guri pobre, ficava sempre apreensivo às vésperas de
casamento de parentes ou conhecidos. Não via a hora, claro, de comer salgados,
doces e tudo mais que me fosse servido. Também gostava de correr feito besta de
um lado para outro do salão, com meus primos, até vomitar na roupinha nova,
comprada a prazo. No dia seguinte, o puxão de orelha era certo. Quando não apanhava ali mesmo: no salão, isso quando a festa não era no quintal da casa do pai da noiva - o que era mais frequente, em função de nossas relações sociais.
Mas o que me deixava apreensivo não era o castigo físico, que, a bem
da verdade, pouco doía. Era a certeza de que mamãe iria à cabeleireira, logo
pela manhã. Que depois voltaria com uns rolos imensos na cabeça coberta por um
pano qualquer. O pior viria à tarde, quase na hora da cerimônia. Quando ela
entrava em casa, com aquele capacete construído com frascos e mais frascos de
laquê, era sempre um baque para mim. Meu pai não se abalava. Às vezes, chegava
a lhe dizer: “Está bonita”.
Aquela mulher de capacete não era minha mãe. Minha mãe era a que me
buscava de cabelos lambidos e vestido ordinário, na porta da escola. Esta eu
amava. Desta sinto saudades.
A minha infância humilde, casa pequena, sete filhos comigo e a vontade de comer biscoito Pilar e guaraná uma vez por ano, na casa da uma bondosa "tia rica". Era uma felicidade. Mamãe com seus belos cabelos negros, soltos; olhos atentos e...linda. Nunca a vi de rolinhos na cabeça, talvez, e certamente, por falta de dinheiro.
ResponderExcluirOrlando, sua crônica me tocou e fui longe.
Grande abraço!
Verônica Aroucha