quinta-feira, 24 de outubro de 2013

AQUELA NÃO ERA MINHA MÃE

Ainda menino, guri pobre, ficava sempre apreensivo às vésperas de casamento de parentes ou conhecidos. Não via a hora, claro, de comer salgados, doces e tudo mais que me fosse servido. Também gostava de correr feito besta de um lado para outro do salão, com meus primos, até vomitar na roupinha nova, comprada a prazo. No dia seguinte, o puxão de orelha era certo. Quando não apanhava ali mesmo: no salão, isso quando a festa não era no quintal da casa do pai da noiva - o que era mais frequente, em função de nossas relações sociais.

Mas o que me deixava apreensivo não era o castigo físico, que, a bem da verdade, pouco doía. Era a certeza de que mamãe iria à cabeleireira, logo pela manhã. Que depois voltaria com uns rolos imensos na cabeça coberta por um pano qualquer. O pior viria à tarde, quase na hora da cerimônia. Quando ela entrava em casa, com aquele capacete construído com frascos e mais frascos de laquê, era sempre um baque para mim. Meu pai não se abalava. Às vezes, chegava a lhe dizer: “Está bonita”. 

Aquela mulher de capacete não era minha mãe. Minha mãe era a que me buscava de cabelos lambidos e vestido ordinário, na porta da escola. Esta eu amava. Desta sinto saudades.


Um comentário:

  1. A minha infância humilde, casa pequena, sete filhos comigo e a vontade de comer biscoito Pilar e guaraná uma vez por ano, na casa da uma bondosa "tia rica". Era uma felicidade. Mamãe com seus belos cabelos negros, soltos; olhos atentos e...linda. Nunca a vi de rolinhos na cabeça, talvez, e certamente, por falta de dinheiro.
    Orlando, sua crônica me tocou e fui longe.
    Grande abraço!
    Verônica Aroucha

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