quarta-feira, 16 de setembro de 2015

QUASE HISTÓRIAS (LXXXI)

INTERNET

PARKINSON (II)

Cumprira rigorosamente o ritual: dera banho no pai, enxugara o pai, colocara a roupa no pai, passara creme hidratante nas pernas do pai e pomada nos ferimentos (o pai caía muito), dera os comprimidos para “administrar” o Parkinson, pingara os colírios etc. Só faltava colocar os sapatos. Mas faltava um dos pés. Vasculhou a casa toda. Em vão.

A empregada chegou, fez o café, mimou o pai e disse ao filho que se tranqüilizasse, fosse escrever seus textos, cuidar da vida. Na hora da faxina, ela daria uma geral e encontraria o sapato fujão. Também não encontrou.

No dia seguinte, o pai pediu ao filho que fosse até a biblioteca, abrisse a gaveta tal e pegasse alguns reais num envelope pardo para comprar umas miudezas. O fujão estava lá.

-- Pai, o senhor esteve anteontem na biblioteca?

-- Acho que estive. Por quê?

-- Seu sapato estava lá, na gaveta. Quem o colocou ali?

-- Não sei. Eu é que não fui.


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