sexta-feira, 18 de setembro de 2015

BRUNO NEGROMONTE

UMA EXALTAÇÃO A UM SALGUEIRO DE VEROSSÍMIL TALENTO
Em seu primeiro álbum a cantora e compositora carioca homenageia dois expressivos nomes do samba carioca
Antes de abordar a artista em questão é preciso trazer o nome de dois compositores que sem as suas respectivas existência o projeto a ser abordado não existiria: Waldemar Ressurreição e Djalma Sabiá. Apesar de ter nascido na região do Cariri, no Ceará, Waldemar (que se vivo estaria completando cem anos no próximo mês de outubro) deu os seus primeiros passos no universo musical na cidade baiana de Ilhéus quando ganhou um cavaquinho. Logo após aprender os primeiros acordes começou a compor e levou consigo essa característica quando foi morar no Rio de Janeiro, cidade que chegou quando tinha 18 anos, em 1932. Nos anos de 1940 teve suas primeiras composições gravadas e formou parcerias com nomes como Herivelto Martins e Evaldo Rui, a partir daí teve canções de sua lavra registradas por nomes como Noite Ilustrada, Ary Lobo, o Trio de Ouro, Quatro Ases e Um Coringa, Francisco Alves, Demônios da Garoa, Blecaute, Carlos Nobre, Roberto Silva, Moreira da Silva entre outros, além de criar o grupo vocal Anjos do Sol. Já o carioca Djalma de Oliveira Costa(popularmente conhecido como Djalma Sabiá) tornou-se uma das emblemáticas figuras da história do carnaval carioca por ser um dos responsáveis pela fundação do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro, tradicional escola de samba cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 5 de março de 1953. Pertencente a ala dos compositores da agremiação, Sabiá (que recebeu este apelido nos tempos em que jogava futebol nas peladas do morro do Salgueiro) foi responsável por diversos samba-enredos da escola que fundou. Dentre os mais conhecidos pode-se destacar "Navio Negreiro",de 1957; "Viagens pitorescas ao Brasil ou Exaltação a Debret", em parceria com Duduca do Salgueiro, de 1959; "Chico Rei", de 1964, de sua autoria em parceria com Geraldo Babão e Binha entre outros grandes hits da agremiação carioca. Hoje aos 88 anos Djalma é o único fundador da agremiação ainda vivo. Sua presença entre nós ressalta a sua importância não apenas por ser, de certo modo, a história viva não apenas do Salgueiro, mas de certo modo do carnaval carioca. 
Ciente da importância desses dois emblemáticos nomes para o universo do samba, Grassa Rangel presta essa singela homenagem dando as flores em vida a Djalma Sabiá m seu primeiro projeto solo, cujo o título é "Grassa Rangel Canta Salgueiro de Waldemar Ressurreição a Djalma Saibá". Neste projeto Grassa consegue apresentar ao longo das faixas presentes um pouco da história do autêntico samba produzido no Rio de Janeiro a partir dos nomes homenageados e outros existentes na ala de autores do Salgueiro ou Salgueirenses de coração. O álbum trata-se de um belíssimo e sonoro cartão-postal que edifica a cultura musical carioca em sua mais genuína essência em ritmo e melodia a partir de um apanhado de canções que foram rememoradas com o luxuoso auxílio do poeta e compositor Djalma Sabiá. São catorze faixas, entre sambas enredo clássico e seus variantes, que representam alguns dos grandes momentos do Salgueiro enquanto Escola e comunidade. O disco abre com um pout-pourri de canções que ganharam a avenida nos anos de 1960: “Chico Rei”, “Dona Beja Feiticeira de Araxá” (1968) e "Chica da Silva” (1963). Da lavra de Waldemar Ressurreição o projeto conta com as canções “A maior Maria” (parceria com Gerôncio Cardoso), “Que rei sou eu” (com Herivelto Martins), “Meu bairro canta” e “Meu latim”; de modo solo Geraldo Babão assina o samba “União do Salgueiro”. Cantadas pelo povo da escola na quadra do G.R.E.S. Acadêmicos do Salgueiro Grassa Rangel teve a perspicácia de selecionar sambas como “Eu Vou Me Ausentar do Samba”, “Água do Rio” e “Vem chegando à madrugada”, composições de Fuzarca, Noel Rosa, Anescar e Zuzuca, respectivamente. De outros consagrados compositores salgueirenses Grassa apresenta “Muito obrigado”, de Cesar Veneno, “Deus Existe”, de Tiãozinho do Salgueiro, o partido “Eu não namoro mulher feia” (Fuzarca) e “Sabiá do Salgueiro”, canção feita a partir de um poema de autoria de Mestre Ziza, o Zizinho, o maior ídolo do futebol brasileiro antes de Pelé. O disco ainda conta com “O Moleque do Repique” (Marcílio do Salgueiro e Olímpio), “Vai batalhar” (Oscarzinho e Zé Vicente) e “Entre a pernada e a rasteira” (Claudio Freire e Luiz Guima). Além de Djalma Sabiá que figura entre os compositores em parceria com Valdir Careca assinando “Tem Samba no Terreiro”.
Com a produção e direção geral de Adelzon Alves e co-produção do homenageado Djalma Sabiá, o disco conta em sua tecitura com a colaboração de nomes como Roberto Marques (trombone), Luis Barcelos (bandolim), Eduardo Tartarelli Neves (flauta e sax), Ubirany (repique de mão), Paulão 7 cordas (regência, produção musical e regência), Paulo Soares (cavaco), Jorge Gomes (bateria), Ramon Alexandre Paiva Araújo (violão 6 cordas), Rogério Caetano (violão 7 cordas), Pretinho da Serrinha (cuíca, caixa e percussão), Alexssandro (pandeiro e tantã), Allison (surdo e atabaque), Zé Luiz Maia (baixo). Além do coro de Zélia, Silvia Nara, Analimar, Stênio e Rixxa nos vocais.
Desse modo Grassa Rangel eterniza-se no universo do samba respaldada não apenas por seu carisma e talento, mas principalmente por um repertório constituído por pérolas do samba carioca através de compositores que eternizaram-se nas ruas, becos, quadra e vielas do Morro do Salgueiro sob a benção de Djalma Sabiá. Em um ambiente predominantemente masculino, a sambista sente-se à vontade com com as precisas interpretações de um repertório constituído por jóias pinceladas por Adelzon Alves, conceituado jornalista que faz um trabalho de quase cinco décadas em pró da música popular brasileira e é responsável pelo lançamento de nomes como Djavan, Zeca Pagodinho, Bezerra da Silva entre tantos outros respeitados do cenário musical brasileiro atual. Agora é vez de Adelzon dar a benção a esta artista que atesta em definitivo que por trás dos estigmas atribuídos aos morros existe algo maior que pulsa em versos e compassos e que acaba por tornar estes lugares profícuos cenários para o desenvolvimento do samba. Ao apresentar este disco, Grassa Rangel constata isto de modo irrevogável prestando um serviço sem precedente não apenas à cultura carioca, mas ao samba brasileiro como um todo a partir deste álbum que em nada difere de um documento histórico-cultural.
Para deleite do público leitor segue o abaixo o álbum completo para audição:

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