segunda-feira, 5 de novembro de 2018

QUASE HISTÓRIAS

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Ilustração: Arquivo Google



APARÊNCIAS

- Você já está bêbado. E ainda não são dez horas da manhã, francamente.

- Como você percebeu?

- Ora, quem não o conhece que lhe compre. É sempre o mesmo filme: começa com suas gracinhas, depois descamba para os impropérios. Afinal, o que você bebeu?

- Cerveja.

- E o que mais? Não minta.

- Cachaça. Cinco cachaças.

- Pelo amor de Deus. Que vergonha. Se ainda bebesse uísque...

- Qual a diferença?

- Ora, quem bebe cachaça é cachaceiro, pinguço, borracho.

- E quem toma uísque?

- Adicto. É mais chique, entende?


TRISTE SINA

É quase sempre assim (ou quase sempre assim): uns e outros me perguntam coisas que não sei responder. Em especial nos botecos de bairro, nas conversas de balcão de padaria. Redutos culturais da cidade, como se sabe.

Não é de hoje que me perguntam coisas que ignoro; não é de hoje que não tenho respostas, também.

Houve um tempo em que tentava justificar minha ignorância.

Bobagem. Hoje, dou de ombros. O melhor é fazer cara de paisagem, cara de conteúdo.

Em sendo ela, a ignorância, o único bem fartamente distribuído (que atire pedras o ignorante atrevido!), a tendência é que os outros considerem sua ignorância superior.

O único risco é que o tomem por gênio.


POR ORLANDO SILVEIRA

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