Foto: Arquivo Google |
Foi uma bonita história de amor. Claro,
houve momentos ruins – momentos de tensão, tédio, agressões verbais e de tudo
mais que, cedo ou tarde, passam a fazer parte de qualquer relacionamento
longevo. Lua de mel não dura para sempre. Quem diz o contrário mente. Ou nunca
conviveu com um (a) companheiro (a) por muito tempo. O desgaste é inevitável.
Após duas décadas de relacionamento, Joana
estava para lá de farta dos defeitos e vícios de Alceu, que, a bem da verdade,
não eram poucos. Alceu, por sua vez, já não tolerava mais as manias de Joana
(vícios ela nunca teve) nem aquela sua presunção de estar sempre com razão,
independentemente do tema em discussão. As rusgas viraram bola de neve. Tudo
era motivo para alterações.
Um dia, após meia dúzia de discussões pesadas, Joana
recolheu suas coisas, fez as malas e se mandou para a casa de um dos filhos.
Deixou Alceu a ver restos de navios – navios que ela queimara para não cair na
tentação de voltar atrás. Sim, porque antes de picar a mula, movida sabe-se lá
por quais sentimentos, Joana fez questão de espalhar para a família, amigos e
vizinhos os vícios e defeitos de Alceu. Ora, quem conta um conto sabe-se... Os
vícios e defeitos de Alceu, que já não eram parcos, tornaram-se enormes.
Alceu não deixou por menos. Queimou todas as
pontes que estavam ao seu alcance. Falou mal de Joana para fulano, beltrano,
sicrano e para todos os que se dispusessem a ouvi-lo. Segundo ele, era a única
forma de se defender das calúnias, difamações e da ira da ex-mulher.
Ambos, no fundo, sabiam que haviam exagerado
nas críticas, que tinham raciocinado com o fígado. Afinal, se os dois fossem
tão ruins assim, o casamento não teria durado tanto. Lesos eles não eram. Como
negar que, ao longo do tempo, desfrutaram de muitos e bons momentos?
Familiares, amigos e vizinhos poderiam atestar isso –, muito embora os vizinhos,
amigos e familiares prefiram, ainda que inconscientemente, reter na memória e
na língua os piores momentos da vida alheia.
Com o passar do tempo, Joana e Alceu, cada
qual no seu canto, passaram a se corresponder diariamente, via WhatsApp. Falavam
de amenidades, dos filhos, dos netos, do cachorrinho traquinas que a nora
tratava como se fosse criança de colo. Às vezes, Joana e Alceu ensaiavam falar
do que, de fato, importava. Não iam além de insinuações. O fato é que Joana
ainda gosta de Alceu. A recíproca é verdadeira. Mas como voltar, se cada um a
seu modo – ela queimando navios, ele destruindo pontes – fez estrago medonho na
imagem do outro? O que dirão os familiares, amigos e vizinhos? No mínimo, que os
dois não têm vergonha na cara. Joana e Alceu seguem infelizes. Cada qual no seu
quadrado. Mas com vergonha na cara.
Orlando
Silveira
Atualizado em novembro de 2018
Sou de um tempo em que, um mês antes de casório, noivo e noiva – e suas respectivas mães, evidentemente, porque aonde uma sogra vai a outra vai atrás – eram obrigados a esperar os convidados, para receber presentes e lhes mostrar o ninho dos pombinhos. Em geral, o expediente era de segunda a segunda. Nos finais de semana, a jornada era dupla. Caceteação sem fim. Peguei nojo de vermute e amendoim, que eram o que dava pra servir. Por Orlando Silveira
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