quinta-feira, 15 de novembro de 2018

QUASE HISTÓRIAS: O POETA MORREU (antes de nascer)

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Ilustração: Arquivo Google

Américo apenas se deu conta de que jamais aprendera o que de fato importa, quando resolveu, depois de velho e absolutamente só, escrever um livro. Não queria um livrinho qualquer, burocrático ou piegas. Nada disso. Andava muito impressionado com Bandeira e Quintana, com a leveza e beleza dos textos deles. Queria algo nessa linha, sedutor. Foi aí que a corda roeu. Jamais gastara tempo observando passarinho voar, muito menos admirando a beleza das flores e do vai e vem sonoro das ondas do mar. Vivera sempre acuado, escondido atrás de pilhas de relatórios e de números que mais escondiam que revelavam. Fez um esforço, buscou na memória – ainda intacta – a lembrança de um grande amor. Lamentou o fato de nunca ter tido uma mulher que hoje lhe trouxesse saudade. Resignado, enterrou o poeta antes de seu nascimento. Não tinha o que dizer. 

(Orlando Silveira - atualizado em janeiro de 2018) 

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