Ilustração: Arquivo Google |
Américo apenas se deu conta de que
jamais aprendera o que de fato importa, quando resolveu, depois de velho e
absolutamente só, escrever um livro. Não queria um livrinho qualquer,
burocrático ou piegas. Nada disso. Andava muito impressionado com Bandeira e
Quintana, com a leveza e beleza dos textos deles. Queria algo nessa linha, sedutor. Foi aí
que a corda roeu. Jamais gastara tempo observando passarinho voar, muito menos
admirando a beleza das flores e do vai e vem sonoro das ondas do mar. Vivera sempre
acuado, escondido atrás de pilhas de relatórios e de números que mais escondiam
que revelavam. Fez um esforço, buscou na memória – ainda intacta – a lembrança
de um grande amor. Lamentou o fato de nunca ter tido uma mulher que hoje lhe
trouxesse saudade. Resignado, enterrou o poeta antes de seu nascimento. Não tinha o que dizer.
(Orlando Silveira - atualizado em janeiro de 2018)
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