FOTO: LUCIO TAVORA/AFP |
SOLTEM O LULA!
É a Comissão de Direitos Humanos da ONU que está mandando
J.R.GUZZO
18/08/2018
Há apenas duas coisas realmente sem
limites nesta vida, dizia Albert Einstein. Uma é o universo. A outra é a
estupidez humana – embora ele fizesse a ressalva de que tinha lá as suas
dúvidas quanto ao universo. O Brasil de hoje bem que pode estar oferecendo uma
terceira certeza: não existe nenhuma fronteira, também, no grau de cretinice
dos esforços que estão sendo feitos para transferir o ex-presidente Lula da
cadeia para a presidência da República. O último surto é talvez o mais
prodigioso de todos: a pedido da equipe de advogados que conseguiu, até agora,
conduzir seu cliente a uma pena de doze anos de cadeia, uma Comissão de
Direitos Humanos da ONU mandou o Brasil soltar Lula. Isso mesmo: mandou soltar,
porque acha que ele tem o direito humano de disputar a eleição de outubro, e
naturalmente não pode fazer isso, e menos ainda exercer a Presidência do país,
se estiver no xadrez. É uma das maiores piadas já contadas na história
universal do direito, mas até aí tudo bem – vivemos mesmo numa época cada vez
mais esquisita. O extraordinário é que um despropósito como esse consiga ser
levado a sério, durante horas a fio, por um monte de gente – a começar,
acredite-se ou não, pelos “especialistas” em dilemas jurídicos internacionais.
Pode um negócio desses? No Brasil pode.
A Comissão de Direitos Humanos da
ONU tem tanta possibilidade de soltar Lula quanto a diretoria de um Rotary Club
do interior do Maranhão. Seu poder legal é zero. Não lhe cabe dar ordens a
governos dos países-membros. A comissão não pode impor sanções a ninguém, nem
convocar uma tropa internacional para intervir em lugar nenhum. Não tem a menor
relevância, também, do ponto de vista moral. Como poderia ter, se vem se
recusando sistematicamente a fazer qualquer crítica a governos celerados como
os da Venezuela ou Nicarágua, ditaduras que cometem assassinatos, torturas e
outros crimes? Como são países de “esquerda”, o comitê da ONU não dá um pio,
com o argumento de que tem de respeitar a sua soberania e que as violações de
direitos humanos ocorridas ali são “questões internas”. Na verdade, o que há
realmente de concreto a dizer sobre essa comissão é o seguinte: trata-se de uma
boquinha clássica, onde parasitas variados vivem como esquerdistas profissionais,
sem produzir um prego e com salários de 4.000 a 11.000 dólares por mês.
J.R. GUZZO É JORNALISTA |
O despacho que ordena a soltura de
Lula é um pequeno monumento à capacidade humana de socar disparates num pedaço
de papel. Diz, para não encompridar o assunto, que não foi verificada até agora
“nenhuma violação” de um direito de Lula ao longo do processo que o levou à
condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Mas até que chegue a
seu parecer final, algo previsto para acontecer só em 2019, é possível que
venha a acontecer alguma injustiça contra o ex-presidente. Nesse caso, ele
precisa ser solto já, porque a eleição está aí – e o homem não pode ficar
sujeito ao risco de sofrer um “prejuízo irreparável”. O efeito de tudo isso,
naturalmente, é nulo. Mas e daí? O que importa para Lula, o PT e o seu sistema
de apoio, é tumultuar o máximo possível as eleições para dizer, depois, que o
resultado não vale. Poderiam festejar, do mesmo jeito, o manifesto lançado no
mesmo dia por outro presidiário cinco estrelas, o ex-deputado Eduardo Cunha. Do
fundo de sua cela em Curitiba, Cunha, denunciado pela esquerda brasileira como
o maior larápio da história desde que Ali Baba encontrou a caverna dos 40
ladrões, declarou-se inteiramente a favor da soltura de Lula e do seu “direito”
de concorrer à presidência. Grande companheiro, esse Cunha.
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