Imagem: Armando Guerra |
Noite gelada. O homem parou
para comprar cigarros na padaria. E ele, como sempre, estava lá, com seu
cachorro, companheiro inseparável de todos os segundos, sentado no degrau do
sobrado vizinho – enrolado numa manta tão suja e puída quanto suas roupas. Todos
o conheciam, e dele gostavam. Raramente, pedia alguma coisa a alguém. Naquela noite, Beiçola pediu um cigarro ao homem.
O homem entrou na
padaria, tomou um trago, pediu ao rapaz da chapa que fizesse um bauru
caprichado para viagem, comprou cigarros e fósforos. Voltou para o balcão,
tomou mais um trago, noite fria demais, de trincar ossos.
-- Comprei um maço de
cigarros e fósforos para você. Este lanche também é seu, coma. Está quentinho,
vai-lhe fazer bem. Você precisa comer, não pode só beber, Beiçola.
Agradecido, Beiçola enfiou o
maço de cigarros e a caixa de fósforos no bolso do casaco. Deu uma mordida no
lanche, mastigou, mastigou, engoliu a pulso, só Deus sabe o quanto custou a Beiçola engolir aquilo:
-- Está muito gostoso, mas
não consigo comer. Posso dar o restante para o cachorro? O senhor não me leva a
mal, não se ofende? Ele tem mais fome que eu.
-- Claro que não me incomodo. Faça o que achar melhor.
-- Muito obrigado. Vá com Deus.
-- Claro que não me incomodo. Faça o que achar melhor.
-- Muito obrigado. Vá com Deus.
(OS - ATUALIZADO EM AGOSTO DE 2018)
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