Foto: Ricardo Pozzo |
O BICHO
Vi ontem
um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
O ÚLTIMO POEMA
Assim eu quereria meu último poema
Que fosse terno dizendo as coisas mais simples e menos intencionais
Que fosse ardente como um soluço sem lágrimas
Que tivesse a beleza das flores quase sem perfume
A pureza da chama em que se consomem os diamantes mais límpidos
A paixão dos suicidas que se matam sem explicação.
PORQUINHO DA ÍNDIA
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele pra sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
***
Manuel Bandeira (1886, Recife, PE - 1968, Rio
de Janeiro, RJ) foi um poeta brasileiro. "Vou-me Embora pra
Pasárgada" é um dos seus mais famosos poemas. Foi também professor de
Literatura, crítico literário e crítico de arte. Os temas mais comuns de sua
obra são: a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, o
cotidiano e a infância. Foi um dos maiores representantes da primeira fase do
Modernismo. FONTE:
EBIOGRAFIA
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