-- O que anda acontecendo com você? Anda tão calado... Está doente? –
quis saber Mafalda, na primeira brecha que encontrou.
-- Ando, não. Quem anda com os nervos arruinados é Josué. Qualquer
hora, ele explode – embora muito gorda seja sua mulher. Esmeralda está imensa.
Do tamanho daquela gorda da novela, talvez um pouco menos. Esmeralda, além de gorda, é geniosa.
O Velho Marinheiro, nosso Lobo do Mar, explicou a Mafalda as razões de
seu retiro espiritual:
-- Após muita reflexão, cheguei à conclusão de que a gula é a mãe de quase todos os pecados
capitais e de muitos veniais também. Esmeralda está sempre com apetite de
ontem, segundo Josué. Nada lhe sacia. Ela, dominada pela avareza, esconde guloseimas por toda parte, só pra não ter que
dividir com filhos e netos. Por isso, não para de engordar. Já tentou todas as
dietas, mas não tem firmeza para levá-las adiante. Desiste. E despeja sua ira em quem encontra pela frente,
principalmente nos vendedores de legumes e produtos light. Josué, que é magro,
também paga o pato. Chama o coitado de tudo que é nome, diz que, por ela, ele
pode bater as botas. Passa o dia no sofá, dominada pela preguiça. E morre de inveja das
mulheres magras, também alvo de sua ira medonha. Manda fazer “trabalhos” para
que engordem também.
-- Que coisa, meu velho, que coisa! – diz Mafalda, sem se descuidar de
anotar num papelucho os pecados capitais citados pelo caçador de bicho de pé
imaginário.
-- Se não bastasse, ostenta um orgulho
besta, porque falso. Diz que é gorda porque tem dinheiro para comprar comida
até se fartar. O que, segundo ela, não deve acontecer na casa de suas
ex-amigas. O que sei é que Josué definha a olhos vistos.
-- Ficou faltando um pecado capital!
-- Qual?
-- Luxúria.
-- Ela também o comete. Apesar da gula desmedida, é humana. Mas, nesse
caso, só peca em pensamento. Certas coisas exigem um mínimo de mobilidade e
fôlego. E isso ela não tem. (OS - atualizado em agosto de 2018)
Boas amizades são urdidas na quietude. Ser amigo não é bisbilhotar a vida do outro, querer que o outro lhe conte o que ele não quer contar. Há tempo para tudo: para discutir coisas sérias, para contar piadas, para assuntar besteiras, para, eventualmente, desabafar... Por Orlando Silveira
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