VOU-ME EMBORA PRA PASÁRGADA
Manuel Bandeira
Vou-me
embora pra Pasárgada
Lá
sou amigo do rei
Lá
tenho a mulher que eu quero
Na
cama que escolherei
Vou-me
embora pra Pasárgada
Vou-me
embora pra Pasárgada
Aqui
eu não sou feliz
Lá
a existência é uma aventura
De
tal modo inconseqüente
Que
Joana a Louca de Espanha
Rainha
e falsa demente
Vem
a ser contraparente
Da
nora que nunca tive
E
como farei ginástica
Andarei
de bicicleta
Montarei
em burro brabo
Subirei
no pau-de-sebo
Tomarei
banhos de mar!
E
quando estiver cansado
Deito
na beira do rio
Mando
chamar a mãe-d'água
Pra
me contar as histórias
Que
no tempo de eu menino
Rosa
(*) vinha me contar
Vou-me
embora pra Pasárgada
Em
Pasárgada tem tudo
É
outra civilização
Tem
um processo seguro
De
impedir a concepção
Tem
telefone automático
Tem
alcalóide à vontade
Tem
prostitutas bonitas
Para
a gente namorar
E
quando eu estiver mais triste
Mas
triste de não ter jeito
Quando
de noite me der
Vontade
de me matar
—
Lá sou amigo do rei —
Terei
a mulher que eu quero
Na
cama que escolherei
Vou-me
embora pra Pasárgada.
NA INTERPRETAÇÃO DE JUCA DE OLIVEIRA
(*)
Mulata que serviu de ama-seca a Manuel Bandeira e a seus irmãos quando meninos.
É
o próprio Bandeira quem explica:
“Vou-me
embora pra Pasárgada” foi o poema de mais longa gestação em toda minha obra. Vi
pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os meus dezesseis anos e
foi num autor grego. [...] Esse nome de Pasárgada, que significa “campo dos
persas”, suscitou na minha imaginação uma paisagem fabulosa, um país de delícias
[...]. Mais de vinte anos depois, quando eu morava só na minha casa da Rua do
Curvelo, num momento de fundo desânimo, da mais aguda doença, saltou-me de
súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me embora pra
Pasárgada!”. Senti na redondilha a primeira célula de um poema [...]” FONTE: BRASIL ESCOLA
***
Manuel Bandeira (1886, Recife, PE - 1968, Rio
de Janeiro, RJ) foi um poeta brasileiro. "Vou-me Embora pra
Pasárgada" é um dos seus mais famosos poemas. Foi também professor de
Literatura, crítico literário e crítico de arte. Os temas mais comuns de sua
obra são: a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, o
cotidiano e a infância. Foi um dos maiores representantes da primeira fase do
Modernismo. FONTE:
EBIOGRAFIA
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